“ Em abril de 1996 deram a minha carreira como terminada, mas eu consegui ser campeã olímpica em agosto. Cheguei a ter medo. Estava em grande forma nos treinos, os meus colegas de seleção sabiam disso, mas tinha consciência de que o tendão podia arruinar o meu sonho a qualquer momento.” brincadeira, quem me conhece sabe que eu ainda brincava com bonecas nos estágios no Algarve. Eu e as minhas amigas fazíamos casinhas, íamos ao parque infantil, sempre brinquei muito. As pessoas achavam que eu treinava demasiado, mas isso não é verdade. Eu só treinava por obrigação, nunca gostei muito de treinar, mas gostava de competir.
ESPECIAL 40 ANOS
ABRIL 2025 REVISTA DRAGÕES
“ Em abril de 1996 deram a minha carreira como terminada, mas eu consegui ser campeã olímpica em agosto. Cheguei a ter medo. Estava em grande forma nos treinos, os meus colegas de seleção sabiam disso, mas tinha consciência de que o tendão podia arruinar o meu sonho a qualquer momento.” brincadeira, quem me conhece sabe que eu ainda brincava com bonecas nos estágios no Algarve. Eu e as minhas amigas fazíamos casinhas, íamos ao parque infantil, sempre brinquei muito. As pessoas achavam que eu treinava demasiado, mas isso não é verdade. Eu só treinava por obrigação, nunca gostei muito de treinar, mas gostava de competir.
Chegar ao FC Porto aos 13 anos foi um choque muito grande? Foi muito difícil. Na primeira semana a minha mãe fez as viagens comigo, para me ensinar, mas depois comecei a fazer uma hora e meia de comboio sozinha. Saía na estação de Contumil e havia uma zona problemática por onde tinha de passar no caminho para os treinos. Havia alturas em que o comboio não parava em Contumil e eu ia desde a estação de Campanhã até ao Estádio das Antas a pé. Os meus pais também não me podiam dar dinheiro para os transportes. Lembro-me de ficar à espera das pessoas para ir apanhar o comboio à noite, porque passava por uma zona onde havia bastantes assaltos, só que depois comecei a ter medo de passar por ali e dava a volta pela Areosa. Foi uma fase muito difícil, mas que valorizo muito.
Esse receio nunca a afastou do FC Porto? Não, nunca deixei de fazer as viagens. Ainda houve uma altura pior, quando o FC Porto deixou de ter pista. Tive de começar a apanhar um autocarro para o CDUP que muitas vezes não vinha. Depois de fazer um treino forçado, ainda tinha de ir a pé desde a Arrábida até São Bento para apanhar o comboio, mas isso nunca me fez desistir do meu sonho.
E como correu a adaptação ao clube? Não senti uma diferença muito grande, porque só vinha duas vezes por semana às Antas. Nos outros dias treinava em Penafiel e claro que o treino era diferente, porque comecei a treinar com o meu pai, que nunca foi treinador, e no FC Porto tinha outra estrutura. Fui-me habituando e nunca senti uma diferença muito grande.
Nessa altura já sentia o peso da camisola azul e branca? Sempre levei muito a sério todas as camisolas que vesti, desde o Valongo ao Kolossal e, como é óbvio, também respeitei a camisola do FC Porto. Tratei todos os clubes com o máximo respeito, porque queria dar sempre o meu melhor.
Depois de bater vários recordes na formação, chega aos Jogos Olímpicos com 19 anos. Como foi a experiência em Seul? Foi excelente. O sonho de qualquer atleta é ir aos Jogos Olímpicos e eu consegui, apesar de não ser candidata a nada. Os Jogos mais importantes para mim foram os de 1996, por razões óbvias, mas os mais marcantes foram os de 1988 porque foram os primeiros.
Foi sem pressão ou criou expectativas? Nessa altura já não dá para ir sem pressão, apesar de saber que não era candidata a nada. Não fiquei angustiada por não ter passado à final, porque sei que dei
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