LADO B
SETEMBRO 2024 REVISTA DRAGÕES
“ Este treinador , o Jorge Costa , confia em mim para subir divisão ”, pensei . E aconteceu . Fomos campeões , passoume inúmeras lições que hoje ainda uso e ensinamentos que ficam para a vida .
Ele afirmou ter “ um carinho especial ” por si e frisou que “ é um portista dos que fazem falta nesta casa ”. Que significam estas palavras ? Acho que significam anos de amizade que ficaram , embora depois nos separássemos porque no futebol convivese com alguém diariamente e depois passa-se dez anos sem ver a pessoa . O que é bonito no futebol é que passados dez anos a amizade e a admiração são exatamente as mesmas . Foi isso que eu senti por parte dele . O Jorge Costa sentir esse orgulho em mim é algo único .
Foi com “ um enorme motivo de satisfação ” que lhe entregou a 2 . É uma responsabilidade ainda maior ? Foi uma surpresa , algo espontâneo que aconteceu . É um motivo de grande orgulho que daqui a muitos anos vou lembrar . Quando penso nisto , percebo que o que me trouxe aqui foi o fazer bem todos os dias , não olhando a caras ou a situações . Deixa-me muito orgulhoso que pessoas a quem toda a gente reconhece enorme valor acreditem em mim .
É a seguir também o exemplo dele enquanto capitão que pretende ajudar os mais novos ? Sem dúvida . Tenho muito prazer em ajudar jogadores mais jovens porque consigo sentir aquilo que eles estão a sentir e não gosto que eles baixem a cabeça ou que , quando estão muito bem , sintam que já estão no pico da carreira pois há sempre muito mais para conquistar . Ainda falta muito . Falta no dia de amanhã ganhar o treino , depois de amanhã querer ganhar a uma equipa inferior , mais ainda do que contra o Barcelona . Quero que eles sintam que essas mensagens são verdadeiras e que realmente o difícil é ser constante .
Regressa com André Villas-Boas , que o torna capitão , e participou durante meio ano numa das épocas mais memoráveis da história do clube . Que ambiente se vivia ? Era inacreditável , uma qualidade nos treinos fora do vulgar e uma energia positiva que só quem viveu aqueles anos viu desde o primeiro dia a qualidade que tínhamos como jogadores e o mérito do treinador , que juntou as peças com uma energia muito boa . Sentimos que podíamos fazer algo histórico e foi isso que aconteceu . Do primeiro ao último jogo , foi sempre a carburar .
Em janeiro , acabou por sair cedido ao Gijón . Conseguiu marcar golos e travar gigantes como o Atlético de Madrid e o Barcelona . Como viveu esses momentos ? Em janeiro , tive uma conversa com o André Villas-Boas em que disse : “ Mister , eu já joguei pouco e agora os jogos vão começar a ficar mais apertados , o melhor seria sair , sendo um bocado egoísta da minha parte ”. “ Oh Castro , mas tu estás bem , estás a trabalhar bem ”, respondeu-me . Não havia espaço para mim . Além dos que jogavam , no banco ainda estavam o Belluschi e o Guarín . Os meus colegas eram bastante superiores a mim e sabia que ia jogar menos . Tinha o Panathinaikos e o Gijón e foi ele que me ajudou a escolher Espanha por ser um campeonato com enorme visibilidade . Acabei por fazer uma época extraordinária que me levou depois a ser convocado para a seleção e tudo .
Marcar o Messi foi uma tarefa hercúlea ? Foi . Era o meu primeiro jogo a titular , queria marcá-lo , mas ele insistia em vir para trás de mim . Meti-lhe as “ facas ” por onde conseguia , empatámos e fizemos um jogo espetacular . Lembro-me de chegar ao fim e ir a caminhar para casa sem acreditar que aquele jogo tinha acontecido . Jogar contra o Messi , o Xavi , o Dani Alves … Podia ter jogado de sapatilhas porque foi só correr , literalmente uma pessoa não toca na bola .
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