Dragões #448 Mar 2024 | Page 36

CLUBE
AS ELEIÇÕES QUE NÃO VINGARAM
Entre 1926 e 1974 , houve três eleições do FC Porto que , por motivos distintos , acabaram por ter de ser repetidas . A 7 de setembro de 1932 , os sócios escolheram como presidente Manuel Mesquita , antigo atleta e pai de dois dos jogadores da equipa que pouco antes se sagrara campeã de Portugal : a estrela Acácio Mesquita – um dos célebres três dias do meio-dia , a par de Pinga e Valdemar Mota – e o também avançado Carlos Mesquita . O ato fora bastante disputado , com o líder eleito a recolher 93 votos e o seu adversário – o histórico Eduardo Dumont Villares , que já fora presidente da assembleiageral ( 1907-1908 ) e da direção ( 1930-1931 ) – a alcançar 70 . De acordo com a ata , tudo terá decorrido normalmente nessa noite , não tendo sido apresentado qualquer protesto , mas apenas cinco dias depois já se estava a realizar uma nova assembleia . Os propósitos eram “ apreciar o pedido de recusa de alguns consócios eleitos ” e “ eleger os elementos que faltam para os lugares vagos ”. Os nove escolhidos que não pretendiam tomar posse eram os vicepresidentes da direção ( José Dias Tavares ) e da assembleia-geral ( Sebastião Ferreira Mendes ), o tesoureiro ( Álvaro Soares ), o segundo secretário ( Alfredo Pinto de Carvalho ) e os dois vogais da direção ( Eduardo Barbosa , Humberto Bragança de Sousa ), e ainda dois suplentes da direção ( António Pinto da Silva e Joaquim Silva ) e um da assembleia ( Bento José Correia ). A documentação é omissa sobre os motivos desta recusa , que tinha como principal consequência a perda de cinco dos sete elementos da direção . Na noite de 12 de setembro
procedeu-se a uma nova eleição . Num estranho clima de aparente unidade – uma vez que a escolha foi feita por aclamação –, um dos anteriores eleitos que não quis tomar posse foi elevado a presidente – Sebastião Ferreira Mendes –, tendo como número dois na direção o homem que menos de uma semana antes fora o mais votado para liderar o clube – Manuel Mesquita . Nove anos mais tarde , a 15 de julho de 1941 , foi eleita por aclamação uma lista liderada por Joaquim Correia da Silva . A 1 de outubro , quando se deveria realizar a tomada de posse , o presidente eleito apresentou uma carta em que declarava “ não poder aceitar a presidência da nova direção , em virtude de o Senhor Emílio Marques Ferreira não querer aceitar a vice-presidência ”. Uma vez mais , a ata é omissa em relação aos motivos desta recusa . Seguiuse um debate intenso sobre a vida do clube , em que chegaram a ser apontados cenárioslimite como a “ intervenção das autoridades do distrito ” e o risco de o FC Porto “ desaparecer com semelhante estado de coisas ”. Determinou-se então que se “ recorresse aos velhos amigos ”, tendo sido realizado um telefonema para chamar à assembleia Sebastião Ferreira Mendes . O antigo presidente da direção ( 1927-1928 e 1932- 1934 ) declarou que não podia assumir qualquer cargo , mas disponibilizou-se para encontrar uma solução . Seis dias depois , por proposta sua , uma nova direção encabeçada por José Barcelos foi eleita por aclamação .
Em 1949 , foi uma intervenção externa suscitada por um grupo de associados a determinar a repetição das eleições . Júlio Ribeiro de Campos fora sufragado para um segundo mandato a 9
de março , mas a Direção-Geral
dos Desportos considerou o ato ilegal . A irregularidade seria a presença nos corpos gerentes de elementos que não cumpriam os requisitos estatutários para integrá-los , algo que , como salientou Manuel Soares dos Reis na assembleia-geral de 6 de maio , poderia ter sido resolvido internamente , como já acontecera em ocasiões anteriores .
A reunião dessa noite também ficou marcada por um debate aceso , com críticas abertas ao processo que conduzira à elaboração da lista anterior . A propósito da preparação da nova
candidatura , Miguel Pereira , que
a encabeçou , revelou que se negara a “ fazer parte de uma futura direção , devido aos seus afazeres profissionais ”, porém , depois de consultado sobre a preparação de uma “ lista de coligação ”, encontrara-se com Júlio Ribeiro de Campos “ num almoço íntimo ” e os dois entenderam-se sobre o caminho a seguir . O associado José Donas , que se preparava para encabeçar uma lista e “ afirmou só desejar o bem do clube ”, retirou-a . A “ lista de coligação ” foi eleita quase por unanimidade .
36 REVISTA DRAGÕES MARÇO 2024