Dragões #448 Mar 2024 | Page 35

CLUBE
Em 1959 ,
2.002 sócios
participaram
na eleição de
Luís Ferreira
Alves
A PARTICIPAÇÃO E OS RESULTADOS
A vida democrática do FC Porto reforçou-se durante a ditadura e um dos principais indícios disso é o crescimento robusto da participação eleitoral : de uma média de 26 sócios a votar na década de 1910 passouse para 131 na de 1920 , 196 na de 1930 , 209 na de 1940 , 2.385 na de 1950 , 435 na de 1960 e 472 na de 1970 ( só até ao 25 de abril de 1974 ). A evolução não foi linear . O aumento do número de votantes foi consistente , mas relativamente moderado , até meados da década de 50 . Em 1955 houve uma explosão e votaram 4.282 associados – o que permitiu quase multiplicar
por sete o anterior recorde de participação ( 629 em 1953 ). A mobilização dos eleitores nesse ano é explicada pela fortíssima competitividade do ato eleitoral , que colocou frente a frente uma lista de continuidade encabeçada por Abel Portal e outra de renovação liderada por Cesário Bonito . Até ao fim da década houve mais duas eleições com participações muito significativas ( 4.640 em 1957 e 2.002 em 1959 ), o que talvez se deva ao precedente de 1955 , ao entusiasmo gerado pelo sucesso desportivo do FC Porto ( depois de 16 anos de jejum , conquistou troféus em 1956 , 1958 e 1959 ) e quem sabe , no caso do ato de 1959 , ao impacto das presidenciais
de 1958 na vida do país – terá a campanha em que Humberto Delgado desafiou a ditadura contribuído para alimentar o desejo de votar dos portugueses ? O cenário mudou na década de 60 e houve até uma forte retração . A explicação poderá passar , em parte , pelos mesmos fatores que contribuíram para o crescimento dos anos anteriores , mas vistos pela negativa : por um lado , a competitividade eleitoral baixou , na medida em que nunca houve mais do que uma lista a disputar as eleições ; por outro , os resultados da equipa de futebol não foram positivos ( o único título conquistado entre o campeonato de 1959 e o fim do regime foi a Taça de Portugal de 1968 ). Esta
é também a década de uma mudança institucional – a criação da Assembleia Delegada – que , não tendo retirado à totalidade dos sócios a possibilidade de eleger os órgãos sociais , acabou por tornar as eleições menos interessantes , na medida em que no dia do sufrágio as candidaturas já tinham sido objeto de uma apreciação prévia . Em linha com o que estava estipulado nos estatutos do clube , durante o Estado Novo houve nove eleições em que os corpos gerentes foram escolhidos por aclamação , a última das quais em 1956 . Cinco anos antes , coube a Antão Santos da Cunha , associado que era deputado na Assembleia Nacional e fora referido na assembleia como “ figura de relevo na vida pública e social da nação ”, apresentar a proposta para assim se proceder . Em duas ocasiões , contudo , iniciativas do mesmo género acabaram rejeitadas : em 1935 , prevaleceu a posição de um sócio que exigiu que se procedesse a um escrutínio secreto ; em 1954 também houve protestos quando Isidoro dos Santos sugeriu o caminho do unanimismo .
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REVISTA DRAGÕES MARÇO 2024