Sousa Magalhães e Ferreira Alves protagonizaram uma eleição renhida |
Cesário Bonito foi eleito presidente da direção seis vezes |
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AS VOTAÇÕES MAIS COMPETITIVAS
Durante o Estado Novo , foram quatro as eleições do FC Porto que se destacaram pela competitividade . Uma delas já foi abordada – a de 1932 , que culminou com dois candidatos separados por 23 votos e acabou por ser repetida –, as outras foram as de 1939 , 1955 e 1959 . No ano em que arrancou a II Guerra Mundial , os sócios do FC Porto foram chamados a votar a 14 de julho , mas a assembleia só seria concluída uma semana depois . Uma das deliberações da primeira parte da reunião foi a escolha dos associados António Augusto de Figueiredo e Melo , António Martins e Flávio Laranjeira para organizarem uma lista a ser votada no dia 21 . A proposta deste grupo viria a ser encabeçada por Ângelo César , presidente desde o ano anterior e deputado na Assembleia Nacional , mas houve uma candidatura alternativa liderada por Manuel Gomes de Almeida . Ainda está por confirmar a identidade deste sócio , mas é provável que se tratasse de um cirurgião cardíaco espinhense descrito como “ um democrata convicto ” que “ no campo das ideias políticas e sociais perfilhava
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as mais avançadas ” ( Maré Viva , 18 / 08 / 1976 ). A confirmar-se esta hipótese , pode ter estado em causa um confronto que espelhava na vida do clube clivagens políticas entre a situação e a oposição face ao regime . Ângelo César teve 256 votos , Manuel Gomes de Almeida recebeu 44 . Em 1955 travou-se um duelo épico – já relatado na edição 403 da DRAGÕES – entre a linha de continuidade de Abel Portal e a de renovação de Cesário Bonito . A eleição devia realizar-se a 27 de janeiro no cineteatro do Vale Formoso , mas a afluência foi de tal forma expressiva que o ato teve de ser adiado dez dias e convocado para o Estádio das Antas . O Diário de Lisboa descreveu o essencial do que se passou durante esse período : “ Tanto um como o outro desses grupos se entregaram a intensa propaganda , distribuindo manifestos e programas , indo mesmo até à publicidade nos carros elétricos ”. A uma escala mais pequena e muito pouco habitual em Portugal , quase pareceria uma campanha política de uma democracia ocidental . A 6 de fevereiro , o presidente da Assembleia Geral , José de Sá – pai do futuro presidente da direção Américo de Sá –, abriu |
os trabalhos dirigindo aos sócios uma frase plena de significado num país que vivia em ditadura havia quase três décadas : “ Fostes convocados para cumprir o mais sagrado direito do homem : o direito de eleger ”. Ao longo do dia , 4.282 associados passaram pelas Antas e deram a Cesário Bonito mais 714 votos do que a Abel Portal . A oposição vencera . Poucos meses depois , o antigo diretor do jornal O Porto , Leite Maia , denunciou ao governador civil que o clube fora tomado por “ uma direção totalmente reviralhista ”. Domingos Braga da Cruz averiguou e concluiu que o delator não tinha o “ mínimo de idoneidade ”. Quatro anos mais tarde , a diferença entre o advogado António José de Sousa Magalhães e o banqueiro Luís Ferreira Alves foi muito mais estreita . O jurista , de acordo com o testemunho do filho que tem o mesmo nome , preparou uma candidatura que se previa que viesse a ser única .
O seu programa incluía medidas inovadoras , como a construção pelo clube de habitação social a disponibilizar aos associados mais carenciados . Ferreira Alves , que já fora presidente entre
1944 e 1945 , apresentou-se
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surpreendentemente perto do limite do prazo e beneficiou de uma condição financeira mais desafogada para investir na campanha e , até , disponibilizar transportes aos sócios de concelhos dos arredores do Porto para irem às Antas votar . Tratouse da última grande eleição do FC Porto realizada durante o Estado Novo : 2.002 sócios fizeram fila para atribuir 1.041 votos a Ferreira Alves e 980 a Sousa Magalhães . Os 48 anos da ditadura coincidiram com os períodos mais duros da história do FC Porto . Foram décadas em que passaram pelos órgãos sociais figuras ligadas ao salazarismo e à oposição , em que o centralismo sufocou o clube ao mesmo tempo que amparava o Benfica , o Belenenses e o Sporting , em que dirigentes de quadrantes distintos – como Ângelo César e Cesário Bonito – ergueram a voz para denunciar injustiças e pagaram por isso , em que houve graves crises financeiras e diretivas , em que foi preciso atravessar dois longos jejuns de troféus de futebol . O FC Porto resistiu . E a democracia interna também . O poder esteve sempre nos sócios , cada um com direito a um voto . É caso único entre os maiores clubes portugueses . |