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governos poderiam ser mais transparentes do que outros. Em razão de a visibilidade
e a inferabilidade representarem partes constituintes da transparência, elas também, em
algum grau, são conceitos que se sobrepõem.
Elementos de visibilidade podem ter relevância para inferabilidade. A visibilidade
da informação é uma das duas condições necessárias para a transparência, mas não
suficiente; a outra é a inferabilidade. Para ser inferível, a informação deve ter qualidade,
ou seja, ter acurácia e clareza, sem dúvida sobre sua credibilidade. As duas condições
são necessárias e o uso do termo transparência frequentemente falha, quando aplicado
apenas para satisfazer uma ou outra condição. Informações incompreensíveis ou não
inteligíveis são não verificáveis e certamente não utilizáveis (Michener e Bersch, 2011).
Na concepção de Scholtes (2012), existem várias perspectivas para a noção de
transparência, pois esta compreende muitas áreas e diferentes contextos: acesso
público, legitimidade, participação, boa governança, confiança, accountability,
comunicação, reputação, privacidade, audibilidade, poder, entre outros. Após
exaustiva pesquisa na literatura sobre o significado de transparência no discurso
político e administrativo, no período compreendido entre 1995 e 2010, aquela autora
apresenta uma síntese sobre transparência em sete dimensões, a partir dos textos
analisados7.
Para além dos textos analisados, Scholtes (2012) considera transparência um
conceito ambíguo. Essa ambiguidade e multiplicidade a tornam uma ferramenta
valiosa e popular no vocabulário dos políticos que querem convencer as pessoas de
suas opiniões e que o cidadão acredite que os interesses da sociedade estão mais bem
protegidos por eles. Isso decorre da conotação positiva que tem a transparência. Com
relação ao conteúdo, não é um fenômeno inocente. No que diz respeito às suas
intenções, a transparência esclarece, explica, torna acessível e fornece orientação. Ao
mesmo tempo, a informação que tem sido feita transparente também é seletiva e
exclusiva e poderá enfatizar uma coisa em detrimento de outra.
Pelo fato de o termo poder ser utilizado para diversas finalidades, não somente
por causa de todos os seus significados, mas também porque há tantos contextos e
diferentes setores da economia em que ele pode ser utilizado, transparência é uma
palavra muito bem-vinda (Scholtes, 2012).
Schnackenberg e Tomlinson (2014) tentaram sintetizar conceitos de
transparência para compor suas definições. Realizaram uma pesquisa, no período
entre 1990 e 2009, e apresentaram, por áreas de domínios do estudo, os autores e suas
respectivas definições para o termo transparência. Após verificarem as sobreposições
e discutir as conceitualizações similares, sustentam que a transparência não é
unidimensional, e sim composta de três dimensões específicas: disclosure (divulgação),
clareza e acurácia da informação. Cada uma dessas dimensões contribui
exclusivamente para o nível global de transparência, aumentando a confiança dos
stakeholders na qualidade da informação recebida da organização. Isto é, como os
cidadãos percebem a informação: a) mais relevante e oportuna – disclosure é
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Veja Scholtes (2012) para uma completa visão dessas dimensões e suas 36 diferentes variedades.
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