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Aqueles cinco milhões e meio de analfabetos funcionais, conviria não esquecer, são, na sua grande maioria eleitores. Eleitores que vão votar sem terem percebido com suficiente clareza o conteúdo real das propostas políticas, sociais e econômicas dos partidos, eleitores a quem, quantas vezes, porque honestamente não se lhes poderia aplaudir a consciência da opção, baixamente se lhes vai lisonjeando o instinto, como se o não saber fosse, afinal, uma expressão superior de sabedoria (Saramago, 1996, p. 202). Em Portugal, segundo os Censos de 2012 do Instituto Nacional de Estatística (INE), tem-se quanto a analfabetismo: Na última década manteve-se a tendência de redução da taxa de analfabetismo. Em 2011, Portugal apresenta uma taxa de 5,2% (499 936 indivíduos), contra 9,0% verificada em 2001 e 11,0% em 1991. A taxa de analfabetismo entre as mulheres é cerca do dobro da verificada nos homens, 6,8% contra 3,5%. Em termos regionais verificam-se grandes assimetrias. No litoral as taxas de analfabetismo são mais baixas do que no interior. Lisboa tem a menor taxa de analfabetismo, 3,2%, enquanto é no Alentejo que se verifica o valor mais elevado, 9,6%. A mesma informação é apresentada no web site da Base de Dados Portugal Contemporâneo (PORDATA). Contudo, quando se analisa a população acima de 15 anos, a taxa de analfabetismo (população sem escolaridade) sobe para 10,39% (INE). Assim, considerando-se as características da população portuguesa, percebe-se que a taxa de analfabetismo vem caindo devido ao óbito da população idosa que no passado não tinha acesso ao ensino formal. No entanto nada se fala de analfabetismo funcional. O Conselho Nacional de Educação foi criado em Portugal em 1982, pelo Decreto-Lei n.º 125/82, de 22 de abril, como um órgão superior de consulta do então Ministro da Educação e das Universidades, com o objetivo de “propor medidas que [garantissem] a adequação permanente do sistema educativo aos interesses dos cidadãos portugueses"(Conselho Nacional de Educação). Em seu web site encontra-se um material que aborda o tema do analfabetismo funcional: O conhecimento das competências reais de leitura, escrita e cálculo da população adulta tem vindo a constituir-se como uma das preocupações, não só de um número cada vez maior de países como também de organizações internacionais como a UNESCO, a OCDE e a UE. Com efeito, a complexidade das sociedades modernas e o progresso tecnológico vieram, apesar da generalização do acesso dos jovens a uma educação cada vez mais prolongada, colocar novos problemas e novos desafios. A crença segundo a qual uma escolarização cada vez mais massificada conduziria à erradicação progressiva do analfabetismo esteve na origem, um pouco por todo mundo, de um conjunto de políticas tendentes a garantir a escolaridade básica obrigatória a um cada vez maior número de pessoas, quer através de medidas orientadas para garantir a escola básica para todos, quer através do desenvolvimento de planos de alfabetização e de educação recorrente, visando uma escolarização de segunda oportunidade para aqueles que à mesma não tinham acedido. Portanto, havia a ideia de que analfabetismo era um problema do terceiro mundo e que devia ser resolvido com o aumento da escolarização. Porém, países desenvolvidos “[...] verificaram a existência de percentagens significativas da sua 156