alfabetismo. Embora não seja possível comparar os dados atuais com a série histórica do Inaf, já que houve alterações na escala, o novo agrupamento permite melhor discriminar o grupo dos alfabetizados funcionalmente, atendendo a uma crescente demanda por uma análise mais detalhada de cada um dos níveis. De acordo com o estudo, 8 % dos brasileiros entre 15 e 64 anos atingiram o nível Proficiente, o mais alto da escala, revelando domínio das habilidades descritas para essa classificação, como elaboração de textos mais complexos, interpretação de tabelas e gráficos envolvendo mais de duas variáveis e resolução de situações-problema de contextos diversos. Vinte e sete por cento das pessoas foram classificadas como Analfabetas Funcionais, com 4 % correspondente ao nível Analfabeto. Neste caso, pode-se afirmar que a quantidade de pessoas com idade entre 15 e 64 anos neste grupo se mantém estável na comparação com os resultados obtidos em 2011, que utilizou o mesmo corte deste estudo(< 95 pontos na escala Inaf). Do mesmo modo, a quantidade de pessoas classificadas como Alfabetizadas Funcionalmente alcança 73 % da população investigada, o que também revela a manutenção do resultado obtido em 2011( Instituto Paulo Montenegro, 2016).
Castro( 2016) comenta o resultado da pesquisa, enfatizando o setor da educação:
Para se ter ideia do tamanho do problema no Brasil, a pesquisa aponta que somente 8 % da população brasileira está alfabetizada plenamente, isto significa que apenas um em cada 13 brasileiros são capazes de ler, interpretar e utilizar as informações de textos sem dificuldades. É muito pouco para quem está entre as dez maiores economias do mundo. Neste cenário, o crescimento econômico fica comprometido, esbarrando na qualificação mínima que se pode exigir de um trabalhador produtivo: o conhecimento da língua materna e o domínio das operações básicas de matemática.
Analisando os dados por setores da economia, verifica-se que o percentual de profissionais plenamente alfabetizados é de: 26 % no setor de comunicação, artes e cultura, 18 % na administração pública, 16 % na educação, 11 % na saúde, 10 % no comércio e de 3 % na construção civil ou indústria. No caso especificamente da educação o percentual é muito preocupante, pois é natural que esperássemos um índice maior do setor que é justamente responsável por desenvolver nos alunos as habilidades relacionadas a leitura, escrita e letramento( Castro, 2016).
O cenário em Portugal não parece ser muito diferente do relatado no Brasil. Em 18 de outubro de 1995, nos Cadernos de Lanzarote: Diário III, Saramago escreve:
A notícia do ano: existem em Portugal cinco milhões e meio de analfabetos funcionais, cinco milhões e meio de pessoas que compreendem mal o que leêm, quando o não compreendem de todo, cinco milhões e meio de pessoas incapazes de fazer uma operação aritmética elementar, cinco milhões e meio de pessoas que não conseguem exprimir por escrito uma simples ideia( Saramago, 1996, p. 176-177).
E, em 19 de novembro de 1995, Saramago fala ao presidente da República Mário Soares:
Cinco milhões e meio de analfabetos funcionais num País de dez milhões de habitantes são pesadelos a mais para qualquer governante, e em particular para um presidente da República, uma vez que ele está obrigado a ser, por propósito, quando não por definição, presidente de todos, ou, com mais rigor, presidente para todos( Saramago, 1996, p. 201).
E, continua:
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