Direito e Informação na Sociedade em Rede: atas Direito e Informação na Sociedade em Rede: atas | Page 139

Introdução A ambiência digital e o crescimento exponencial do ecossistema informacional mediado por computador impactaram, dentre outros aspectos, o modo de consumir e produzir bens intelectuais na contemporaneidade, gerando potencializações e acarretando várias implicações de natureza legal. Dentre as novas condições abertas estão as práticas de produção colaborativa em rede. Com a cultura digital, observamos uma maior visibilidade e possibilidades de criação a partir dos produtos de software e sistemas computacionais que permitem a remixagem ou mashup e uma nova estética aos produtos resultantes dessas ações, além da ampliação do consumo aberto através de compartilhamento de arquivos em formato digital. Durante as últimas décadas, a produção cultural se expandiu a partir da disseminação de conteúdos em rede e da absorção da tecnologia digital no fazer, conforme colocado por Castells (2009) ao situar o contexto das tecnologias da informação e comunicação a partir da década de 1970 como fundadoras de uma sociedade em rede ou sociedade informacional, de onde partem todas essas práticas de produção colaborativas e de consumo de bens (intangíveis) em formato digital. Neste contexto, discutiremos questões do ordenamento jurídico brasileiro a partir da exploração da perspectiva das licenças Creative Commons (CC), que foram criadas justamente com a intenção de oferecer outras possibilidades de licenças com caráter mais aberto e com possibilidades de remixagem de acordo com as decisões dos autores. No fundo também está a intenção para que estas produções possam circular livremente e funcionar de acordo com a lógica do copyleft (oposto do copyright). As licenças proprietárias estabelecem que antes de usar qualquer produto é necessário pedir autorização ao autor, uma vez que todos os produtos recebem uma proteção legal. Pela lógica do Creative Commons o uso das licenças é estabelecido através das especificações representadas pelos símbolos que determinam os tipos de usos e apropriações permitidos como a utilização livre (desde que não comercial). Assim sendo, possibilidades de remixagem do material permitem liberdades de apropriação já autorizadas pelo autor da obra baseada na noção de copyleft. Os usuários, neste caso, são produsers em potencial, como designa Bruns (2005), e com essa sistemática em curso o CC sai de “todos os direitos reservados” para “alguns direitos reservados” já que eles criam uma lista de licenças específicas – que detalharemos mais adiante - para usos dos produtos artísticos culturais. Nosso problema de pesquisa está nas relações das licenças baseadas em Creative Commons e sua compreensão dentro do ordenamento jurídico brasileiro no contexto da Ciência da Informação. As questões centrais de pesquisa versam sobre essa problematização entre modelos de licenças Creative Commons e a condição do ordenamento jurídico brasileiro buscando caracterizar os aspectos de rupturas e de equilíbrio possível no contexto da digitalização e do digital e das intervenções na produção ou [re]circulação das obras. Formulamos essas duas questões centrais de pesquisa: (a) de que modo a produção colaborativa baseada em Creative Commons se harmoniza com o ordenamento jurídico brasileiro em termos de propriedade 127