Detectives Selvagens 0 - Julho 2014 | Page 42

PEDRO DIONÍSIO humidade. Sabia lá ele. E pouco lhe interessava. O roupeiro tinha cerca de dois metros de altura com duas grandes portas e duas gavetas na parte inferior. Era demasiado grande para si. Mas quando chegou ao quarto ele já lá estava, marcando a sua presença como guardião do tempo que ia passando. Era o maior objecto daquele quarto pequeno que Rui tinha arrendado há cerca de três anos. E ocupava grande parte do espaço da divisão. Dentro do roupeiro tinha algumas calças, umas t-shirts, umas camisolas de malha, duas camisas, e um casaco que usava todo o ano. Nas gavetas tinha as meias, os boxers, dois cachecóis e umas luvas já um pouco puídas. Aliás, toda a sua roupa já havia sido nova. Dizia bem com o aspecto do roupeiro. Era grande demais para tão pouca roupa. Volta-se para o lado esquerdo. Ao lado da cama está uma mesa-de-cabeceira, aparentemente do mesmo material do roupeiro. Em cima um candeeiro comprado numa dessas lojas que vendem artigos baratos e de fraca qualidade estética. Junto ao candeeiro tem um despertador electrónico. Consegue ver as horas. Consegue ver o tempo a passar enquanto permanece no seu torpor diário. Pouco lhe importa. Em cima da mesa-de-cabeceira tem um livro que tenta ler há alguns dias. Não se lembra do título e muito menos do enredo. Junto ao livro tem um cinzeiro e o tabaco. Desse lado tem a janela que lhe proporciona uma vista sobre 42