LOURENÇO BRAY
de uma cabeça felpuda. Os meus olhos adaptaram-se à
claridade.
Reconheci
o
Guaxinim
Neurótico.
Estava
agarrado às grades com as pequenas patas cheias de pêlo
cinzento e branco todo hirsuto e enfiava o focinho para
conseguir espreitar melhor para dentro da cela.
O focinho entre as grades arreganhava-se-lhe um pouco
e mostrava os dentes sem querer, dando-lhe a aparência
ilusória de um pequeno animal feroz e enervado. Os bigodes
desproporcionais, longos arames de nylon quebradiço,
vibravam com os esforços de afocinhar pelas grades adentro.
Os pequenos e brilhantes olhos negros, camuflados na
máscara de ladrão, limitada por orlas de pêlo muito branco
que se estendiam até às patas, contemplaram-me de alto a
baixo, parecendo finalmente fixar-se no meu nariz e
perscrutar-me:
─ O que te aconteceu à cara? ─ perguntou-me muito
espantado.
─ Nada de especial. E à tua, o que aconteceu?
─ Estás com os olhos todos negros e o focinho
inchado... ─ observou ─ pareces... pareces um guaxinim.
Tens de meter gelo.
─ Não tenho gelo. Trouxeste?
─ Não sabia que estavas assim. Não sei onde ia arranjar
gelo. Se calhar numa bomba de gasolina. Olha, trouxe-te isto
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