PEDRO DIONÍSIO
têm sido passados a bolachas e pacotes de leite pequenos que
comprou num míni mercado perto do prédio onde mora.
Não há dinheiro para comer fora. Inala um pouco mais de
fumo e prepara-se para pôr os pés no chão. O chão é de
madeira e ele sabe que está frio. A madeira é uma madeira
velha que range a cada passo. Talvez humidade. Por
enquanto, mantém os pés no tapete sujo que tem junto à
cama. Tem os pés nus e o Inverno tem sido particularmente
frio.
Em pé. Aproxima-se da janela de onde vê a luz do dia a
diminuir. O céu esteve limpo o dia todo e bastante luminoso.
Pelo menos assim pensa, uma vez que a luz do sol entrou
todo o dia no quarto, aquecendo o espaço. Abre a janela.
Frio. O céu está carregado de tons alaranjados que
prenunciam um dia de amanhã também luminoso. Amanhã
também não faz tenções de sair de casa.
Há quanto tempo não saía do quarto? Há quanto
tempo se havia confinado? À parte ter que sair para usar o
quarto de banho comum do andar, não saía para lado
nenhum. E mesmo essas viagens a essa divisória do andar
eram evitadas o mais possível. Não se queria cruzar com
ninguém. Uma, duas semanas? Perdera a noção do tempo.
Fechou a janela e voltou para a cama. Apagou o cigarro
e pegou no livro para tentar ler um pouco. O Coração das
Trevas. Konrad. Em tempos alguém lhe havia falado desse
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