RUI
livro como um livro muito importante e que ele tinha de ler.
Tinham feito um filme baseado no livro e tudo. Mas, o livro
aborrecia-o. A viagem rio acima, os dilemas existenciais de
Marlow, a personagem enigmática e pairante de Kurtz.
Continuava por teimosia. Também, o que é que havia para
fazer? Lia para se esquecer. De si. Fazia-lhe bem aquietar a
mente e adormecer os pensamentos que tinha de si e do que
estava à sua volta.
Doente. Era assim que se sentia. Não era uma maleita
física. Era algo que provinha do âmago. Indefinido. Não
conseguia apontar uma causa ou motivo concretos. Sentia
um mal-estar permanente que não localizava em parte
alguma do seu corpo. Tudo o aborrecia. Tudo o cansava.
Desinteresse. Nada tinha peso para si. Nada o puxava. Um
imenso sentimento de vazio. Há quanto tempo se sentia
assim? Demasiado.
Acende outro cigarro. Vira a página do livro. O que é
que acabou de ler? Não se lembra. Tenho de me concentrar,
pensa.
Mas
a
miríade
de
pensamentos,
memórias,
recordações, não pára. Tudo na sua cabeça é confusão.
Entra-lhe fumo para os olhos. Ardor. Lágrimas. Sente-se.
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