PEDRO DIONÍSIO
humidade. Sabia lá ele. E pouco lhe interessava. O roupeiro
tinha cerca de dois metros de altura com duas grandes portas
e duas gavetas na parte inferior. Era demasiado grande para
si. Mas quando chegou ao quarto ele já lá estava, marcando
a sua presença como guardião do tempo que ia passando.
Era o maior objecto daquele quarto pequeno que Rui tinha
arrendado há cerca de três anos. E ocupava grande parte do
espaço da divisão. Dentro do roupeiro tinha algumas calças,
umas t-shirts, umas camisolas de malha, duas camisas, e um
casaco que usava todo o ano. Nas gavetas tinha as meias, os
boxers, dois cachecóis e umas luvas já um pouco puídas.
Aliás, toda a sua roupa já havia sido nova. Dizia bem com o
aspecto do roupeiro. Era grande demais para tão pouca
roupa.
Volta-se para o lado esquerdo. Ao lado da cama está
uma mesa-de-cabeceira, aparentemente do mesmo material
do roupeiro. Em cima um candeeiro comprado numa dessas
lojas que vendem artigos baratos e de fraca qualidade
estética. Junto ao candeeiro tem um despertador electrónico.
Consegue ver as horas. Consegue ver o tempo a passar
enquanto permanece no seu torpor diário. Pouco lhe
importa. Em cima da mesa-de-cabeceira tem um livro que
tenta ler há alguns dias. Não se lembra do título e muito
menos do enredo. Junto ao livro tem um cinzeiro e o tabaco.
Desse lado tem a janela que lhe proporciona uma vista sobre
42