A AUSÊNCIA É UM REVÓLVER CARREGADO
onde tinha vindo. Abri a porta que me parecia ser a certa e
estava a Helena a entrar na banheira, nua claro, e eu vi-a da
cintura para cima, graças ao espelho. Nunca contei isto a
ninguém. Nem sei bem como descrevê-las: perfeitas seria um
eufemismo, mas acho que é assim que as guardo na memória.
Acho que fiquei apaixonado pela Helena durante algum
tempo. Parecia ser mais interessante que as miúdas da minha
escola nessa altura, talvez por ser mais velha. Agora é
diferente. Não tenho namorada, se é isso que queres saber,
mas até podia ter se quisesse. O problema é que não sei bem
se quero, para quê, tenho de pensar nisso. Talvez seja como
muita coisa na vida: uma pessoa experimenta e pensa como é
que vivi a minha vida toda sem isto? Acho que é isso que me
mete medo: perceber o que perdi para trás, perceber que não
viverei sem algo daqui para a frente, especialmente se depois
as coisas não correrem bem e mais nenhuma rapariga quiser
namorar comigo. O Bruno sempre teve namoradas: pelo
menos é assim que me recordo dele, quando morava lá em
casa. Às vezes levava algumas para casa e dava-me dinheiro
para ir jogar nas máquinas. Jogava um jogo estúpido com
um macaco que cuspia umas bolas, agora que penso nisso era
realmente estúpido. O jogo de futebol era mauzinho, e estava
sempre ocupado. Não gostava assim tanto de jogar nas
máquinas, preferia ficar no quarto, mas saía na mesma:
assim eles ficavam sozinhos. Às tantas, quando o Bruno
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