Detectives Selvagens 0 - Julho 2014 | Page 22

VÂNIA CUSTÓDIO Nasceram na terra, vão ao café da aldeia, bebem vinho na tasca, participam nas festas da colectividade e vêem os programas do day e do prime time em televisão de canal aberto. Conversam sobre as últimas intrigas dos reality shows e têm opiniões sobre os temas quentes do Correio da Manhã, que discutem alegremente com quem se aproxima da mesa do pequeno-almoço. De vez em quando lêem e gostam de falar sobre isso com gente que tem "mais cultura". Enchem a boca para dizer que gostam de Dan Brown, Nicholas Sparks, Miguel Sousa Tavares ou José Rodrigues dos Santos, enquanto esperam um sinal de aprovação do outro lado, a senha de que se entrou para um clube restrito. Simples, as pessoas simples, acreditam que lêem os melhores autores e mostram-no com a generosidade de quem espera esse reconhecimento. Não distinguem o secreto torcer de nariz das pessoas não simples, aquelas que já aprenderam que isso não é literatura que se apresente, menos ainda que se torne pública. Ai delas que algum dia o dissessem com esta leveza nos círculos que se movem. Isso é para o povo, para as pessoas simples. Formadas em universidades das grandes cidades, ou apenas com a escolaridade obrigatória, as pessoas simples nunca perderam o cordão umbilical que as liga à terra onde nasceram e às pessoas da sua origem. Movem-se num meio restrito e pertencem a uma comunidade. Representam o 22