Fernanda Fernandes
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ovos, empoeirados, físi-
cos, digitais, de todos os
jeitos e formas os livros
e o estímulo ao gosto e ao hábito da
leitura têm sido importantes para o
crescimento do repertório cultural de
muita gente. Além disso, quem lê de-
senvolve habilidades de interpretação
textual. Três em cada dez brasileiros
são analfabetos funcionais, segundo
o Indicador de Alfabetismo Funcio-
nal (Inaf) Brasil 2018. Ou seja, 29%
do total de brasileiros de 15 a 64 anos
têm dificuldade para compreender os
significados do que leem. O incentivo
à leitura pode contribuir para a redu-
ção desse problema.
Em Bauru, a jornalista Tamiris
Tinti Volcean é a responsável pela
idealização do projeto Brincar de Ler,
uma iniciativa voluntária para incen-
tivar a leitura e a escrita a crianças e
adolescentes da cidade. “A leitura tem
todo esse componente lúdico que vai
propiciar muitos frutos no futuro para
quem desenvolver esse gosto, princi-
palmente em relação à capacidade de
abstração, interpretação e estímulo
do senso crítico”, pontua a jornalis-
ta. Hoje, o projeto tem parceria com a
prefeitura, conta com grupo de volun-
tários e realiza atividades periódicas
nas bibliotecas ramais do município.
O projeto nasceu da vontade pes-
soal da jornalista, inspirada por sua
experiência como professora de cur-
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Ler também é brincar T
Todas as quintas-feiras, o projeto Brincar de Ler
organiza atividades nas bibliotecas ramais
S
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sinhos populares para jovens-adultos.
Em 2014, Tamiris resolveu encher
o porta-malas de seu carro de livros
e distribuí-los em bairros
As atividades
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do
Aline Barbosa
poesia declamada para grandes pla-
téias não é algo novo para a cultu-
ra, seja ela mundial, nacional ou
bauruense. Porém, novas configurações tem
ganhado espaço na contemporaneidade. Antes
apresentada em grandes casas de espetáculos,
com poltronas aveludadas e um público exclu-
sivamente da elite, a poesia, agora, passa a se
voltar para um público menos elitizado. Por
isso, começa a ocupar novos espaços nas cida-
des: os bares, as casas e até mesmo as ruas.
Esse movimento deu origem ao que,
hoje, se convencionou chamar de Poetry Slam,
que é a poesia declamada em competições, nas
quais os autores têm de um a três minutos (de-
pendendo do local) para declamar suas poesias
autorais. Posteriormente, são votadas pelo pú-
blico ou por um júri e classificadas em primei-
ro, segundo e terceiro lugar, com ou sem pre-
miação.
Essa prática do uso da palavra foi idealiza-
da pelo escritor Mark Kelly Smith em Chicago,
nos Estados Unidos, nas décadas de 70 e 80 -
período em que a cultura do Hip Hop ganhava
forma - com o objetivo de levantar questões da
urno escolar
m no contrat
do projeto”, lembra Tamiris.
A professora Maria do Carmo Ko-
bayashi, do Departamento de Educa-
ção da UNESP de Bauru, afirma que
“uma das coisas mais importantes para
um indivíduo querer ler é você atribuir
significado à leitura, e saber que tudo
que você fala, você pode escrever, e
que tudo que está escrito pode ser
atualidade e levá-las para o debate. Mas, foi so-
mente por volta dos anos 2000 que o Slam che-
gou ao Brasil. Trazido pela poetisa e slammer
Roberta Estrela D’Alva que, após a conquista
do terceiro lugar na Copa do Mundo de Poesia
Slam em 2011, em Paris, na França, fundou o
grupo ZAP! (Zona Autônoma da Palavra). O
ZAP! coordenou o primeiro Slam no Brasil.
Já em Bauru, o Slam se originou
em duas frentes. Primeiramente, com o grupo
literário Expressão Poética, atuante há 19 anos
e, posteriormente, com o Subverso Slam, que
atua há um ano na cidade. O primeiro surgiu em
2013, pela iniciativa do poeta José Carlos Men-
des e é realizado, até hoje, em diversos espaços
públicos, como bares e casas culturais.
Ana Maria Barbosa Machado, co-organi-
zadora dos eventos da Casa de Cultura “Celina
Neves” e integrante do grupo Expressão Poéti-
ca, fala sobre o perfil dos slammers “Os partici-
pantes do slam em Bauru desde a 1ª edição são
muito variados, participam desde adolescentes,
estudantes universitários e poetas anônimos até
nomes consagrados da cidade”, comenta. Já
o Subverso Slam foi idealizado pela poetisa
bauruense Mariana Shoenwetter Lacava, de 24
anos, com o objetivo de ocupar um espaço que,
por direito, é de todos - a rua. O Subverso Slam
encanta o público mensalmente na Praça Ruy
Barbosa, no centro de Bauru.
W
U
que a leitura não é só uma obrigação,
que também é um brincar, e foi daí
que surgiu o nome
er acontece
Brincar de L
periféricos do município. “Notei que
é muito mais eficiente e eficaz, em
contexto pedagógico, se nós incenti-
varmos e apresentarmos esse mundo
da leitura nos primeiros anos”, relata
a jornalista. “Então, foi dessa experi-
ência que surgiu o projeto, dessa ideia
de incentivo para que as crianças de-
senvolvam esse gosto e reconheçam
Batalhas em torno da palavra ganham
espaço na cultura bauruense
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A C E
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lido”. Por meio de atividades lúdicas,
o projeto desenvolvido pela Tamiris se
propõe a contribuir para essa signifi-
cação da leitura.
O Brincar de Ler conta com um
grupo de voluntários que realizam
leituras e oficinas nas bibliotecas ra-
mais do município. Não é necessário
realizar inscrição para participar das
atividades. Segundo a voluntária Ala-
na Gomes, fazer parte da iniciativa de-
senvolve habilidades como empatia,
para quem se interessa em ajudar, e
de visão de mundo, para as crianças.
“Todos esses projetos que tentam mu-
dar um pouco a realidade de algumas
crianças, tentam levar para elas novo
conhecimento. Nós também passamos
a ouvir essas crianças, ter contato com
elas, deixar que elas manifestem sua
própria criatividade”, conta Alana.
Qualquer pessoa ou instituição
pode doar livros para ajudar. “Todos
eles servem, porque cada livro, seja
ele didático, infantil ou para a primeira
infância, todos eles serão direcionados
para as faixas etárias às quais convêm
e para a situação que convêm”, enfati-
za Tamiris. “O importante é que esse
livro não fique parado. A leitura é uma
coisa cíclica, que deve ser comparti-
lhada”, conclui a jornalista.
Os interessados em se volunta-
riar no projeto Brincar de Ler, ou em
doar livros, podem entrar em contato
pelo [email protected].
POESIA COLETIVA
A poesia é livre.
A poesia é espontânea – arte momentânea.
A poesia é puro sentimento,
flui a qualquer momento
do autoconhecimento.
É um desatino.
Porém, há que se ter disciplina.
A palavra nos ensina
que nem sempre se precisa de rima.
A poesia é algo que nos anima,
é luz que nos ilumina!
Expressão Poética
PERIFÉRICO E MARGINAL
Segundo a fundadora Mariana S. Lacava,
o Subverso Slam é um produto genuinamente
periférico e marginal, pois, além de trazer a
tona deficiências da sociedade, é um entre-
tenimento de cunho político e artístico de e
para pessoas que, às vezes, não são notadas
por nós - alunos, jovens e até andarilhos e
moradores da região.