Desapegos para se apegar
Os brechós podem ser espaços ideais para se
comprar peças boas e baratas
Caroline Roxo
Q
uando se fala em cultura,
logo se associa a ideia a
traços linguísticos carac-
terísticos de determinados grupos, ou
a comportamentos e expressões artís-
ticas. Porém, há outras manifestações
culturais, como as roupas. O figurino
usado por um grupo diz muito sobre
sua história e representa um marco
simbólico de sua trajetória e do mo-
mento que se vive. Os modelos pas-
sam por grandes mudanças ao longo
dos anos. Caso se queira caracterizar
uma mulher do século 18, por exem-
plo, é bem provável que essa perso-
nagem vista um longo vestido de al-
godão ou musselina. Assim, os trajes
são de notável importância na compo-
sição da personagem.
As roupas também servem de mo-
delo hierárquico. Podem expressar a
classe social em que determinada pes-
soa se insere, não só pelo modelo do
traje como pelo tecido. Os figurinos
refletem personalidades, profissões,
ocasiões, estereótipos e muitas outras
características. Com a consolidação
do capitalismo, a moda tornou-se ex-
tremamente mutável e em constante
renovação. A cada estação, uma nova
coleção inspirada em grandes desfiles
e em marcas renomadas. As pessoas
querem renovar o armário o tempo
todo, buscando novas peças, novos
acessórios e enjoando rapidamente
dos itens antigos. O mercado das rou-
pas acabou ganhando um caráter for-
temente mercadológico.
Para fugir desse consumo exa-
cerbado e da moda imposta, alguns
espaços são ideais, como os brechós.
As roupas vendidas nesses locais têm
preço acessível, além de reciclarem
peças antigas que ainda são úteis.
Em Bauru, o brechó há mais tempo
em funcionamento é até recente. Tem
apenas 15 anos. O Brechó da Vovó
começou com a Aline Bonetti Rego,
mãe de duas filhas, Jade e Francyne.
Aline, com 56 anos de idade, inaugu-
rou sua primeira venda de roupas em
sua própria garagem: “Abri meu guar-
da-roupa, separei 6 peças que não usa-
va mais e coloquei à venda por 1 real”,
conta. Foi assim que ela arrumou uma
forma de sustentar suas filhas e de ter
seu próprio negócio. O lugar passou
por muitas mudanças e já vendeu rou-
pas masculinas, femininas, infantis, de
gala, despojadas, com etiquetas, amar-
rotadas e, até mesmo, móveis usados.
Todos os acessórios sempre são ven-
didos há preços baixos e hoje são ta-
belados.
O Brechó da Vovó tem esse nome
por conta da mãe de Aline, dona Ma-
noelina, e é uma loja física e virtual.
No início, a venda era feita no “boca
a boca” e para pessoas da região. Hoje
também faz parte do e-commerce. A
internet e os aplicativos são instru-
mentos que vêm sendo utilizados pe-
los brechós. Há diversos brechós cir-
culando pelas redes sociais, sendo eles
populares, temporários, fixos ou ape-
nas uma página criada para vender pe-
ças que não se usa mais. Isso possibi-
litou um gigantesco aparato para quem
consome esses produtos, mas também
aumentou a concorrência entre os bre-
chós. Aline diz que o movimento caiu
bastante porque hoje existem muitos
semelhantes ao dela. “Isso é bom para
quem compra, mas nós tivemos que
focar no nosso carro-chefe, que são as
roupas masculinas”, ressalta a comer-
ciante.
Por meio das redes sociais, Nata-
lia Nogueira, formada em moda pela
Universidade Estadual de Londrina,
criou um evento, na cidade de Bauru,
que reúne vários brechós da cidade em
um só local, conhecido como Só Bre-
chós. Já está na terceira edição e conta
com um grupo fixo com cerca de 30
comércios. “Só aceito pessoas que te-
nham o negócio como fonte de renda”,
afirma Natalia, que também é dona de
um ateliê que abre esporadicamente.
Segundo ela, na edição passada, mais
de 500 pessoas circularam pelo evento
e a proposta consiste em expandir esse
tipo de venda, ajudando quem sobre-
vive com esse mercado e quem conso-
me a preços mais acessíveis.
Brechó em Bauru com algumas das roupas em exposição
ALGUNS BRECHÓS
EM BAURU
MEGA BAZAR BRECHÓ
BRECHÓ DA VOVÓ
CABIDE DA YAH
DESAPEGO DA BAIXINHA
Crédito: Caroline Roxo
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