CULT 167 CULT 167 - ABR 2012 | Page 17

Também fala sobre os dois regimes totalitários, comunista e nazista, sob os quais viveu na Tchecoslováquia; a relação com o ator Jack Nicholson e a cantora Courtney Love, para quem tirou dinhei-ro do próprio bolso a fim de garantir que participasse de seu filme; e a admiração pelo escritor Milan Kundera, que foi seu professor na faculdade.

CULT - Qual era sua percepção do Partido Comunista quando vivia na Tchecoslováquia? Como o regime totalitário afetou seus filmes dos anos 1950 e 60?

Milos Forman - Os comunistas sempre retrataram a cultura ocidental como decadente. Mas, é óbvio, eu não aceitava o que diziam. Era claro pra mim que se tratava de propaganda política.

Quanto aos filmes, nós, cineas-tas, tínhamos consciência de que estávamos tocando em alguns proble-mas políticos — se você faz algo que é real, em que você diz a verdade, sempre se torna político.

Mas, por conta da atmosfera um pouco mais livre na Tchecoslováquia depois de Stálin e Kruschév [sucessor de Stálin no PC da União Soviética] e porque meus filmes eram considerados comédias, eles eram tolerados. Não tive grandes problemas.

Por haver perdido seus pais no Holocausto, nunca sentiu vontade de di-rigir um filme sobre a Segunda Guerra?

É algo pessoal que eu mesmo não entendo completamente. Nunca tive o ímpeto ou desejo de fazer um filme sobre o Holocausto. Por algum motivo, não quero revisitar esse período da minha vida. Mas estou em paz com ele.

O Povo Contra Larry Flint (1996), centrado no editor de uma revista masculina, trata, sobretudo, de liber-dade de expressão. Como se sentiu quando alguns críticos afirmaram que o filme fazia apologia da pornografia?

Isso é absolutamente ridículo. É a mesma coisa que dizer que temos

"Não sei até hoje se Jack Nicholson é louco ou não; como em muitas pessoas talentosas, sua personalidade é complicada, original e interessante"