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Isso não é exatamente uma reverência... assim começa um trecho de uma canção da banda Fellini, representante do underground do rock brasileiro nos anos 80. Esse texto não é exatamente uma reverência, mas uma narrativa sobre experiências compartilhadas com um professor e amigo entre os anos de 2004 e 2008 e que foi cultivada no decorrer desses últimos tempos. Fui orientado por Selvino José Assmann, em parceria com Alexandre Fernandez Vaz, em minha tese de doutorado. Narro algumas memórias desse tempo. As palavras permitem outras formas de reelaboração do pensamento. Nestas poucas linhas devo admitir que se trata exatamente de uma reverência.
No dia em que defendi minha tese estava na casa de Selvino e Helena. Eles nos haviam hospedado (eu e Lígia). Antes de nos dirigirmos à UFSC, Selvino me presenteou com dois livros. Um deles foi a “A hora da estrela”, de Clarice Lispector. Ele disse: “Hoje você é a estrela”. O outro livro se chamava “História do mundo em seis copos”, de Tom Standage. Não me recordo se ele disse algo sobre esse livro, mas estava explícita os significados que ele expressava sobre nossa amizade.
Em minha particular interpretação, o primeiro livro simbolizava nossa cumplicidade intelectual. Lembro que após a leitura deste clássico de nossa literatura nacional propus a ele e Santiago Pich (outro amigo e orientando de Selvino) que escrevêssemos um ensaio sobre a vida nua e a potência da vida. A ideia que estava sendo gestada – a tentativa de colocar em prática um insight – girava em torno do paradoxo que a
obra representava: uma leitura precisa da vida nua e, ao mesmo tempo, a potência da vida expressa artisticamente pela autora. A potência do pensamento e da escrita.Esse texto nunca foi adiante...
Essa cumplicidade intelectual não será o foco destas linhas. Outras pessoas já fizeram textos em espaços de divulgação acadêmica que celebram a trajetória intelectual de Selvino e mais gente se encarregará disso nesta edição da Contemporânea. Assim, pretendo relatar minha amizade com Selvino a partir do outro livro. Quero destacar as viagens que fizemos juntos ao longo dos anos.
“História do mundo em seis copos” descreve como diferentes bebidas estiveram entrelaçadas nas relações culturais e econômicas de diferentes sociedades, como mostra seu sumário: a cerveja na Mesopotâmia e no Egito, o vinho na Grécia e em Roma, os destilados no período colonial, o café na Idade da Razão, o chá e o Império Britânico, a Coca-Cola na ascensão da América. O livro é uma viagem por diferentes contextos.
Mas, a relação que Selvino estabeleceu com as viagens acadêmicas é um tanto incomum em se tratando de um professor que viveu por muitos anos no exterior (mais especificamente, por onze anos na Itália) e por seu cosmopolitismo
RELATO DE BORDO: VIAGENS E MEMÓRIAS EM CINCO CIDADES
HOMENAGEM A SELVINO ASSMANN
Eu sou
Você é também
E todos juntos somos nós
Estou aqui reunido
Numa pessoa só
[...]
Todos juntos reunidos
Numa pessoa só
(Arnaldo Baptista)
Ivan Marcelo Gomes