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Selvino ASSMANN
muito carinho de uma conversa sobre música nordestina, em que me apresentou e logo me emprestou CDs de vários artistas que não estão na mídia e que, como muitas vezes acontece, são extraordinários. O que dava a pauta mais uma vez do espírito pesquisador do Selvino, com um jeito de explorador aventureiro que gostava de mergulhar nos cantos mais recônditos. E acho que o Brasil, nesse sentido, é inesgotável. Assim era também com a filosofia e a política; embora tivesse as suas preferências ou filósofos de referência, sempre andava na procura de novas leituras, porque o que não fazia, nem um pouco, eram concessões aos consagrados, pelo fato de serem consagrados. Selvino se interessava pelos autores, mas, sobretudo, pelas ideias, pelo pensamento. Atrevo-me a dizer que era um ativista do pensamento crítico, por paradoxal que pareça a expressão.
Sem dúvida Selvino foi uma oportunidade de aprendizado para aqueles que o conheceram, dentro e fora da aula. Uma personalidade extraordinária, com uma vida admirável. Penso que foi uma espécie de outsider para os padrões típicos das Universidades, mas, em grande parte, isso foi favorável, pela possibilidade de pensar e agir sem grilhões. Agradeço ao Alexandre por ter me aproximado do Selvino, e agradeço à vida pela possibilidade de me despedir dele, numa linda conversa junto com outros amigos, cinco dias antes de sua partida.
Selvino foi um homem desses que Bertolt Brecht chamou de imprescindíveis. Eu penso em Selvino e as palavras que me vêm são aquelas da canção de Caetano Veloso: Alegria, Alegria.
Montevideo, 03 de janeiro de 2018.
Raumar Rodríguez Giménez é Doutor em Ciências Humanas (UFSC), Mestre em Ensino Universitário (UDELAR/Uruguai), Licenciado em Educação (UDELAR/Uruguai) e Professor de Educação Física (ISEF, Uruguai). Atualmente é professor da Universidad de La Republica (UDELAR) em regime de Dedicação Total.