Contemporânea Contemporânea #8 | Page 9

ALGUMAS PALAVRAS SOBRE SELVINO ASSMANN

Raumar Rodríguez Giménez

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Não é fácil escrever em memória do Selvino Assmann. Desde que me foi feito o convite, demorei bastante em começar. Embora o português não seja minha língua materna, e muitas vezes falasse em espanhol com Selvino, naturalmente começo a pensar nele e fluem as imagens lusofalantes. Conheci-o em setembro de 2012, foi Alexandre Vaz que me o apresentou, para falar do meu interesse no Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas do CFH/UFSC, que Selvino naquele tempo coordenava. Para minha sorte, acabou sendo co-orientador de minha tese.

Talvez uma das coisas mais alentadoras das conversas com Selvino fosse seu entusiasmo quase juvenil (talvez devesse tirar o quase). Um entusiasmo contagiante, corajoso e alegre. Em suas palavras sempre havia um sentido crítico muito agudo, tanto em relação às teorias quanto no que dizia respeito à realidade em movimento. Isso, num primeiro momento, podia aparentar certo sentido pessimista. Porém, ele pensava com uma espécie de dialética em que o falso podia ser verdadeiro, o verdadeiro falso, e do ruim sempre se podia tirar alguma coisa boa. Qualquer coisa era uma oportunidade para refletir criticamente, qualquer coisa, até a própria doença, no final da sua vida. Eu chamaria isso de espírito. O espírito do Selvino era gigantesco e incansável. Na verdade, até amedrontava! Porque a gente pensava: como estar à altura!? Mas, a tranquilidade vinha quando se compreendia que Selvino não pedia nada a ninguém, mas sempre estava para escutar e responder, por simples que fosse a questão. Simplesmente, e nada menos, generosidade.

Para mim, a entrada do Selvino na aula tinha uma ambivalência muito engraçada. Por um lado,

representava, claro, a entrada da autoridade, com aquele tom solene das nossas universidades, ainda muito eclesiásticas. Porém, muitas vezes parecia que entrava um comediante, com o olhar picaresco que sempre o acompanhava junto com aquele sorriso de cumplicidade, pronto a soltar qualquer piada vinculada aos principais fatos do dia, especialmente, políticos. Suponho que ele fizesse de propósito, porque brincava com as solenidades, qualquer que fossem, mas sem desrespeito aos usos e costumes. Era muito sutil. E, falando em aulas, ali não havia assuntos tabus, todos eram tratados com a mesma disponibilidade e profundidade, inclusive aqueles temas e posições aos quais Selvino declarava ser contrário. As polêmicas eram bem-sucedidas e rolavam muitos conceitos para sempre voltar a repensar os problemas, cada vez desde uma ótica diferente.

As conversas não acabavam nos grandes filósofos ou grandes teorias. Enquanto houvesse oportunidade, Selvino também gostava muito de falar da política concreta de nossos dias e era, obviamente, muito informado sobre ela. Tanto da política brasileira quanto do mundo afora. Tive ocasião de conversas muito interessantes e divertidas sobre a política no Uruguai, especialmente aquela dos últimos quinze ou vinte anos. Mas também não acabava na política! Numa roda de conversa informal, podia rolar quase qualquer tema interessante: música, artes plásticas, comidas, bebidas (especialmente o vinho, falávamos bastante de vinho). Lembro com

HOMENAGEM A SELVINO ASSMANN