Contemporânea Contemporânea #12 | Page 9

JOGOS OLÍMPICOS

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CORPOS E PRÁTICAS ESPORTIVAS EM DISPUTA

BREVE IMAGEM DO PARASKATE

Gisele Carreirão Gonçalves

Michelle Carreirão Gonçalves

Lumiar Cardoso de Bakker Gomes

O skate passou a compor o consagrado grupo dos esportes olímpicos nos Jogos de Tóquio 2020/2021, junto com outras práticas consideradas de aventura, como o surfe e a escalada indoor. Se os primeiros registros do skateboard (como o conhecemos hoje) datam dos anos 1960, sua entrada oficial no maior evento esportivo do mundo, mais de meio século depois, é atravessada tanto pelas tensões entre seus praticantes mais antigos, quanto pelo aumento crescente de sua popularidade entre os mais jovens (mas não só entre eles).

Em Tóquio pudemos observar, para além das medalhas prateadas trazidas pela equipe brasileira, uma nova estética que congregava corpos jovens, às vezes quase infantis, competindo com aqueles mais maduros, algo pouco comum no registro esportivo olímpico. Entre as diferenças, ou dissonâncias (Camargo, 2016), destacou-se a presença de Alana Smith, atleta dos EUA, uma pessoa considerada gorda e autodeidentificada como não binária, disputando (na categoria feminina) no street skate, indicando possibilidades de corporeidades outras no interior da prática.

São os corpos dissonantes que nos interessam aqui, notadamente os de pessoas

com deficiências que praticam o skate, o chamado paraskate, ainda novato e fora do horizonte paralímpico. Porém, seu crescimento tem sido significativo em solo nacional, levando à fundação, em 2022, da Associação Brasileira de Paraskateboard (ABPSK), reunindo skatistas crianças, adultos, mulheres e homens com algum diagnóstico de deficiência.

Compõe a presidência da entidade, Vinicius Sardi, que faz uso de pernas protéticas habitualmente, mas nas pistas, se projeta sem esse recurso. Vini, como é conhecido, é atleta profissional e vinculado ao Clube Corinthians, uma possível exceção no campo. Já Antônio Augusto A. C. Da Cruz, o Tony Alves, assume a vice-presidência da ABPSK e também tem a bi amputação como uma das suas marcas identitárias.

Tivemos a oportunidade de acompanhar algumas das manobras radicais promovidas pelos paraskatistas durante o STU National – 1ª Etapa Florianópolis, em fevereiro de 2024, num parque de skate exclusivamente construído pela Prefeitura Municipal da cidade para receber o evento. As questões que apresentamos na sequência são oriundas dessa experiência enquanto espectadoras da referida competição.

Certamente a proposição do skate, numa versão adaptada às pessoas com deficiências, causaria vertigem ao precursor do paradesporto, o médico alemão Ludwig Guttmann, que o idealizou, inicialmente, com fins reabilitatórios. Guttmann esteve atento aos feridos da Segunda Guerra Mundial, em especial, aqueles com lesão na medula espinhal. Com a popularização deste outro modelo esportivo, distintos coletivos vão por ele se interessar, como os cegos, surdos e paralisados cerebrais, ampliando, não

só as adaptações necessárias, mas também o repertório de modalidades reestruturadas

(exceto o Goalball, singular por ter sido gestado exclusivamente para ser praticado por

pessoas cegas ou com baixa visão, não sendo derivado ou adaptado de nenhum esporte

convencional).