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JOGOS OLÍMPICOS
aos feridos da Segunda Guerra Mundial, em especial, aqueles com lesão na medula espinhal. Com a popularização deste outro modelo esportivo, distintos coletivos vão por ele se interessar, como os cegos, surdos e paralisados cerebrais, ampliando, não só as adaptações necessárias, mas também o repertório de modalidades reestruturadas (exceto o Goalball, singular por ter sido gestado exclusivamente para ser praticado por pessoas cegas ou com baixa visão, não sendo derivado ou adaptado de nenhum esporte convencional).
O Tiro com Arco foi o fundante dos exemplares adaptados, apresentado ao público em 1948, de maneira competitiva, na Inglaterra, sob a organização do Dr. Guttmann, abrindo caminho para a criação dos Jogos Paralímpicos em 1960¹, realizados em Roma. Nesta oportunidade inaugural, o médico tratou de colocar seus pacientes sobre uma cadeira de rodas, possivelmente atados por um cinto (por medida de segurança, algo ainda feito por alguns paratletas). O que encontramos no paraskate pode ser lido como subversão a essa lógica inicial, delineando outras relações entre corpos e instrumentos.
Nessa prática, o espetáculo está nas acrobacias feitas com o corpo livre. O skate voa tanto quanto o/a atleta, que deve retomá-lo com maestria, quando dele se desprende, a depender da manobra executada. São corpos exibindo as suas mutilações, sem que isto seja um problema. Às vezes as próteses são renunciadas propositalmente, em outras são expostas contrastando com a perna não amputada. São corpos sentados no skate, indicando que os pés são dispensáveis (alguns paraskatistas estabelecem uma relação cotidiana com o skate, abdicando da cadeira de rodas) quando se tem ágeis rodinhas. E há ainda os que fazem uso de suas bengalas para mover-se pelos obstáculos impostos na modalidade street. Situação, infelizmente, não presenciada no STU Florianópolis.
O skate traz na bagagem uma carga contestadora. Atrelado às ruas, aos grupos marginais, desafia a gravidade, a normatividade das arquiteturas, permite que as paisagens sejam vistas por outros ângulos, consolidando-se como expressão daquilo que Leonardo Brandão e Giancarlo Machado (2021) chamaram de cultura corporal anárquica, oposta ao disciplinamento e esportivização. Atualmente vemos que, mesmo em suas versões esportivas, a identidade subversiva segue presente na prática, seja no modelo convencional, seja no paraskate.
Mas nos depararmos com a riqueza do paraskate em um contexto de campeonato, que permitiu também o encontro com suas indefinições, registros de seu amadorismo. Numa busca por material que possa ajudar na elucidação de seu percurso histórico, sua criação, seu público-alvo, seus critérios de categorização, pouca coisa encontramos. Talvez nos dando mais uma demonstração da sua marginalidade, cria da rua, parido na vadiagem, no encontro daqueles que só tinham por objetivo brincar e se divertir, opondo-se à ideia de um paradesporto terapêutico, corretivo de lesões, embora, possa trazer em seu discurso legitimador a defesa de que praticá-lo atua como possível “remédio” para a saúde mental.
CORPOS E PRÁTICAS ESPORTIVAS EM DISPUTA