Prof. Dr. Wagner Xavier de Camargo
Research fields: Gender, Sexuality, Sports & Anthropology
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JOGOS OLÍMPICOS
mulheres competindo no horário nobre da televisão; a renomeação de lugares com nomes de importantes mulheres históricas; ou ainda quando apoia a existência da Pride House, um local de acolhimento e celebração da diversidade sexual e de gênero, durante seus Jogos.
Porém, sob os auspícios de buscar a tal “igualdade de gênero”, para um mundo mais justo e equitativo, e assim se afinar com a Agenda do Desenvolvimento Sustentável da ONU para 2030, as ações do comitê dos Jogos de Paris e do Comitê Olímpico Internacional (COI) ainda são bastante tímidas e insuficientes.
E mesmo se tomarmos apenas a categoria genérica “mulheres”, como se insiste, poderíamos nos perguntar: e as massagistas, técnicas, assistentes técnicas, preparadoras físicas, árbitras, oficiais técnicas (ITO’s), cis, trans, não bináries, racializadas ou não, que sequer tiveram a chance de serem chamadas para estes megaeventos? E as mulheres jornalistas muçulmanas estariam em igual número representativo cobrindo os Jogos como seus colegas homens?
Indubitavelmente, os Jogos Olímpicos (e possivelmente os Paralímpicos) de Paris-2024 serão um passo a mais na busca de condições equitativas de gênero. No entanto, a luta de resistência para uma maior consideração sobre a interseccionalidade continuará: não é possível entender gênero como sinônimo de mulher e considerar a variável gênero de modo isolado de outras (como origem étnica, religião, gênero, orientação, profissão e demais), pois não se está atingindo a “igualdade de gênero”. Porque se devem levar em consideração outras mulheres e mesmo outros sujeitos sexualizados e racializados.
Portanto, jamais diria que se tivéssemos mais “mulheres cisgênero”, em número equivalente em postos de competições, nos esportes individuais e coletivos, ou mais “mulheres cisgênero” na arbitragem ou no comando de equipes e atletas estaríamos em situação de “igualdade de gênero”. Seria somente uma reparação histórica pelo tanto de tempo que tais “mulheres” estiveram alijadas das possibilidades de ação dentro do mundo esportivo. E as “outras mulheres” (as indígenas, quilombolas, trans, etc.) e outros gêneros seguem sem fazerem parte deste panteão olímpico.
As preocupações são muitas e as inquietações também. Não se trata de buscar uma equidade genérica de qualquer marcador social (gênero, sexualidade, etnia, deficiência, classe social...) no esporte. Isso não funciona direta e automaticamente. Que venham outras edições olímpicas (e também paralímpicas) mais preocupadas com tais marcadores sociais relacionados às maiorias excluídas para que busquemos, de fato, patamares mais equitativos.