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JOGOS OLÍMPICOS
tão bom quanto o daqueles que saltam sem deficiência e muito acima e muito melhor que os dos atletas contra os quais compete.
A provocação pode ser estendida para todos aqueles esportes que não normativos e não masculinos. Assim, o futebol feminino e os esportes de mulheres, os para pessoas com deficiência, Gay Games, igualmente podem oferecer inspiração para não-atletas, mas ainda não ostentam a qualidade do esporte de alto rendimento masculino, modelar para todos os outros que vêm depois dele.
Mesmo reconhecido, o esporte para pessoas com deficiência ainda comporta aqueles que não são os modelos de beleza e eficiência que somos ensinados a admirar.
Embora já tenha conseguido muito, o futebol de mulheres – que se lembre que a seleção masculina não se classificou para a Paris 2024 – não alcança o mesmo reconhecimento que seus coetâneos, existindo de maneira “marginal, ou seja em via alternativa ao esporte que realmente vale, novamente: normativo e masculino, daqueles que têm marcas melhores e tempos menores.
Se a Olimpíada é o evento que reúne os mais destacados atletas, o desejo é o de estar entre os melhores, reconhecendo, neste caso, que estes ainda não estão entre aqueles com os quais compete. Rehm, de certa forma, sabota o ideal paralímpico ao desejar competir entre os corpos normativos, pois expõe a adjetivação colocada aos seus pares: não são atletas, mas paratletas.
Embora treinem duro como os atletas olímpicos, passem horas longe das famílias em viagens e competições, dediquem todo seu tempo para o esporte, não recebem os mesmo status que aqueles que lhes servem de modelo de rendimento, ficando ainda circunscritos ao chamado esporte de inclusão.
Mas, como esperar inclusão de tais eventos, se há uma disputa feroz pelo melhor lugar, pela medalha de ouro, pela possibilidade de estar entre os não deficientes? Seus super corpos e nesse caso, talvez não o sejam, são fenomenais apenas nas arenas desportivas paralímpicas. Ser atleta com deficiência ainda não representa, ao menos no senso comum, ser reconhecido como estando entre os melhores do mundo, como os olímpicos. Ser uma pessoa com deficiência que pratica esporte de alto rendimento é ser, ao menos ainda, paratleta, e não atleta. É estar na segunda categoria do esporte mundial.
(1) Disponível em: < https://www.paralympic.org/> e < https://www.olympic.org/>. Acesso em: 25 de agosto de 2016.
Danielle Torri
Professora Departamento de Educação Física - UFPR
Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea