Contemporânea Contemporânea #12 | Page 14

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JOGOS OLÍMPICOS

parentes da jogadora Pretinha quando assistiam ao jogo da seleção. Outras duas reportagens compõem a página voltada para o futebol feminino (4), porém, uma propaganda da própria Folha ocupa praticamente toda a página inferior do jornal.

A seleção da Noruega se classificou em primeiro e o Brasil estava classificado para disputar a semifinal contra a China. A classificação feminina para a semifinal também produzia seus efeitos no jornal. “Sob emoção, feminino vai para a Vila” era a manchete da reportagem do jornalista João Carlos Assumpção. Na digitalização do jornal, boa parte do conteúdo do texto está ilegível, mas ao lado do texto há uma foto da zagueira Tânia abraçando a meia-atacante Kátia após a classificação contra a Alemanha.

As partes legíveis são um box com informações sobre o treinador Zé Duarte que pedia uma seleção mais atenta e queria atenção na marcação contra a China: “O ataque delas mostrou que é forte. Quero o time acordado e marcando bem desde o começo”(5).

Duas pequenas reportagens apontavam para dois lugares que se complementavam. A primeira falava sobre o início de muitas jogadoras: o futsal. Na análise da jogadora Sissi, a China teria uma vantagem coletiva enquanto o Brasil seria no individual. Assim, analisava: “A maioria das nossas jogadoras veio do salão. Quem joga salão sabe dar dribles curtos e aproveitar cada espaço do campo (6). A segunda reportagem mostrava a média salarial das jogadoras: mil reais. O prêmio pela medalha de ouro, divulgada pela matéria, era de quatro mil reais. A atacante Pretinha questionava o valor e revelava a realidade do futebol feminino: “Você tem que ter alguma outra atividade para não passar fome. Conheço muitas jogadoras que ganham salário mínimo (R$ 112)” (7).

Na semifinal, a seleção feminina saiu perdendo para a China, mas conseguiu a virada por 2 a 1 e ao final acabou derrotada por 3 a 2 (8). Entre as reportagens, havia uma que trazia as falas de duas jogadoras que analisavam a participação da seleção feminina até aquele momento. A goleira Meg destacava o cenário da seleção em relação às demais adversárias: “Essa foi a primeira vez que contamos realmente com uma estrutura de preparação. Ainda assim, depois do Mundial de 95, as nossas adversárias fizeram muito mais jogos contra equipes fortes do que nós” (9). Outra jogadora que foi entrevistada foi a atacante Pretinha que analisou os fatos do jogo em que boa parte o Brasil jogou com uma jogadora a menos, depois da expulsão da zagueira Tania. Depois a China também teve uma atleta expulsa. Para Pretinha, “Não há culpados. Desde o início da Olimpíada pegamos pedreira e mostramos nosso valor. Hoje poderíamos até ter empatado no finalzinho” (10).

A disputa do bronze pela seleção feminina representava mais do que a conquista de uma medalha. Para as jogadoras, a conquista da medalha era produzir uma visibilidade para o futebol feminino. A reportagem da Folha disponível no site do jornal apresenta uma grande parte ilegível. Porém, na parte em que se pode ler, há novamente uma fala da goleira Meg: “É a chance de tentar mudar alguma coisa. Com uma medalha, a imprensa e os torcedores passarão a valorizar as mulheres no futebol” (11) .

As informações sobre a derrota da seleção feminina na disputa do terceiro lugar para a Noruega, por 2 a 0, descreviam como havia sido o jogo. Ao final da reportagem, algumas falas das jogadoras se voltavam à realidade. Para Pretinha, “Nem nós esperávamos chegar tão longe” enquanto a jogadora Michael Jackson analisava a perda da medalha e projetava o futuro: “Perdemos a medalha no final do jogo contra a China. [...] A partir de agora vão dar valor ao futebol feminino no Brasil” (12)