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JOGOS OLÍMPICOS
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A ESTREIA DO FUTEBOL FEMININO NOS JOGOS OLÍMPICOS DE 1996 SOB A PERSPECTIVA BRASILEIRA
Sérgio Settani Giglio
Quando se pensa no futebol é preciso especificar sobre qual futebol estamos nos referindo. Até pouco tempo naturalizou-se a ideia de que futebol se referia ao futebol masculino. Se hoje vemos mudanças importantes no futebol em que as mulheres passaram a ter mais visibilidade, isso é resultado de inúmeras ações produzidas no passado. Neste texto, busco discutir como o jornal Folha de S. Paulo, periódico de grande circulação (especialmente no Estado de São Paulo), noticiou a participação da seleção brasileira feminina nos Jogos Olímpicos em um momento em que o destaque do jornal sobre futebol era o masculino.
A escolha da edição de Atlanta 1996 (19/07 a 04/08) se justifica por ser a estreia do futebol feminino nos Jogos Olímpicos. Sim, são 96 anos de diferença para a primeira participação do futebol masculino, como exibição em 1900.
Para realizar a pesquisa na Folha, utilizei o acervo da Folha, e analisei na íntegra o caderno de esportes do jornal de 14 de julho de 1996 a 9 de agosto de 1996.
A caminhada do Brasil
A primeira notícia sobre a seleção feminina apareceu na segunda rodada da competição. A invisibilidade da estreia feminina no empate em 2 a 2 contra a seleção da Noruega não foi registrada pelo jornal. Mas a segunda rodada, merecia aparecer com algum destaque, pois era a última notícia da página, mas que tinha uma foto da jogadora Roseli fazendo alongamento, pois o Brasil também jogaria contra a seleção japonesa. A seleção masculina havia sido derrotada pelo Japão na primeira rodada e por isso, a manchete foi: “Feminino pega o Japão em clima de vingança”¹. As mulheres iriam vingar os homens? Por que fazer essa associação? Na reportagem, que nada condizia com a manchete, havia a explicação da situação da classificação do futebol feminino.
A realidade do futebol feminino recebeu a atenção da reportagem antes da partida contra a Alemanha. A organização da seleção feminina havia sido terceirizada pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) ficando a cargo da empresa Sport Promotion. O contrato foi firmado em dezembro de 1994 e tinha duração prevista de cinco anos pelo então presidente da CBF, Ricardo Teixeira.² Além disso, a empresa negociava com a Federação Paulista de Futebol a organização de um campeonato feminino.
O empate em 1 a 1 com a Alemanha classificou o Brasil em segundo lugar do grupo F. O Brasil sofreu o gol logo no início do primeiro tempo (aos quatro minutos) e empatou no segundo tempo com Sissi. A notícia da classificação da seleção feminina foi veiculada na quinta página do caderno de esportes. ³ Um texto pequeno de duas colunas tinha como limite duas fotos, uma da jogadora Fanta em disputa de lance contra uma jogadora alemã e uma foto de parentes da jogadora Pretinha quando assistiam ao
jogo da seleção. Outras duas reportagens compõem a página voltada para o futebol
feminino 5 , porém, uma propaganda da própria Folha ocupa praticamente toda a página
inferior do jornal.