Negros e negras vêm conquistando espaços importantes no Brasil e em outros países. Podemos dizer que este é um período de grandes mudanças no contexto sócio-histórico, impactando não apenas a sociedade brasileira. Tais agentes começam a ocupar espaços que antes eram dominados por sujeitos brancos, principalmente, no mercado de trabalho, em profissões de destaque e visibilidade. Uma clara conquista da luta de homens e mulheres pretas que inconformadas com sua condição de apenas sobreviver, transgrediram o destino ao não ocupar apenas o lugar que se esperava que ocupassem.
De acordo com Santos et al. (2023, p. 43), “é preciso primeiro reconhecer que o racismo está presente na sociedade e nas escolas para então combatê-lo.” Com isso, percebemos que o racismo brasileiro caminha por outros trilhos nos quais ninguém se considera racista, mas para se defender de qualquer ato esses sujeitos (racistas) dizem a famosa frase: “até tenho amigos e parentes que são negros!”
Assim, observamos que o racismo se faz presente em todas as esferas da sociedade brasileira, mas focaremos nosso olhar e análise reflexiva no campo esportivo. Nos últimos anos,
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cada vez mais são noticiados atos racistas em variados espaços de disputas esportivas pelo mundo, nos diferentes níveis de competições, e, claro, o Brasil infelizmente também é cenário recorrente dessas práticas discriminatórias.
Quando pensamos nas diversas modalidades esportivas, podemos observar que o racismo se apresenta com diferentes características, por haver práticas corporais mais racializadas que outras. Por exemplo, a natação exige infraestrutura específica para sua prática, uma piscina e vários outros equipamentos, e isso, em um país como o Brasil, por si só é uma barreira excludente, implicando em uma seletividade em relação às pessoas que acessam esses locais para iniciação e formação. Uma piscina com mínima estrutura de uso é algo que aos jovens e crianças de periferia – local em que encontramos muitas pessoas negras – certamente se apresenta como uma realização utópica.
De acordo com Fernandes, Heibirn e Courrege (2020), a natação não tem se mostrado inclusiva e democrática ao longo da história. Evidencia-se um dos porquês de não existirem muitos negros praticando e competindo na modalidade. Além das barreiras estruturais, equipamentos e acessórios se impõem como impeditivos para a corporalidade negra, como constatado nos Jogos Olímpicos de Tóquio (2021), quando a Federação Internacional de Natação não aceitou o uso de toucas para cabelos afro, alegando que não seguem “a forma natural da cabeça” (EVANS, 2021).
Outra modalidade, o tênis, é também um dos esportes racializados, por existirem poucos negros praticantes, e isso igualmente se dá porque espaço e materiais para sua prática não estão acessíveis a todos. Apesar das muitas conquistas das irmãs Williams, uma observação se confirma na fala da tenista negra norte-americana Taylor Townsend: “Tem segurança extra para verificar se faço mesmo parte” (TOWNSEND, 2020). No exercício da sua profissão, ela é “acompanhada” (vigiada) por seguranças como muitos outros negros e negras anônimos que circulam por shoppings, supermercados e outros estabelecimentos comerciais.
A sociedade não espera que corpos negros estejam em determinados espaços, como se deduz da fala da atleta Taylor. Então, podemos dizer que os atletas negros precisam superar seus limites quanto ao desempenho atlético e também continuamente reafirmar que fazem parte daquele espaço como profissionais do esporte, e não como “apanhadores de bolinhas”, imagem comum e recorrente associada a ocupação dos corpos negros nesses espaços e arenas esportivas mais elitizadas.
Ao tratarmos do futebol, um esporte popular no Brasil e no mundo, vemos que o racismo se perpetua de forma cada vez mais escancarada. Os vários episódios que aconteceram recentemente com atletas brasileiros, comprovam essa situação, indicando que não são fatos isolados.
RACISMO NO ESPORTE
Beatriz de França Alves
Cristiano Mezzaroba
Daniel Machado da Conceição