Congresos y Jornadas Didáctica de las lenguas y las literaturas. | Page 28

Na base de muitos desses trabalhos, está a premissa de que as competências para a leitura e a escrita acadêmicas se desenvolvem a partir da vivência dos estudantes com as/nas práticas discursivas e sociais do espaço de formação do ensino superior, o que se concebe contrariamente à ideia de que as competências para a leitura e a escrita, quaisquer sejam seus usos, estariam já plenamente adquiridas pelos estudantes quando estes chegam aos estudos superiores, conforme criticam Dabène e Reuter (1986). Assim, ainda que se admita que muitos estudantes terminem a educação básica com lacunas e/ou deficiências em sua formação para a leitura e a escrita, é preciso ter em conta que grande parte das dificuldades por eles enfrentadas ao ingressarem no ensino superior e, muitas vezes, ao longo de toda a trajetória na universidade, são inerentes à etapa de formação em que se inserem. A aposta que se faz, portanto, é que está em jogo a compreensão, por parte dos estudantes do ensino superior, dos processos interacionais, dos papéis comunicativos, das estratégias e recursos por meio dos quais se dá materialidade a um projeto de ação linguageira na esfera acadêmica, o que demanda a vivência – e a reflexão sobre essa vivência – dos sujeitos nesse espaço social da atividade humana. Assim, em coro com Matencio (2008, p. 555), entende-se que as competências em questão pressupõem habilidades construídas “pelo sujeito como esquemas de ação e modelos estáveis de representação mental, à luz de padrões interacionais também estabilizados”. Isso significa assumir, em consonância com as bases epistemológicas do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD), que o processo de ensino e de aprendizagem da leitura e da escrita acadêmicas deve ser vivenciado tomando-se textos empíricos como produtos da atividade de linguagem em funcionamento nas esferas de troca social. Considerado esse ponto de vista, este trabalho ampara-se na concepção de letramento como práticas sociais fundadas no (e pelo) uso da escrita e da leitura (Street, 2003; Kleiman, 1995), reguladas por injunções sociais, culturais e históricas, em cuja atualização os discursos são postos em funcionamento. Desse modo, entende-se que o letramento varia em função do sistema de referências culturais, ideológicas e materiais que o tipifica e condiciona. À luz desse quadro, as práticas de letramento acadêmico são concebidas como espaço de produção, circulação e recepção de discursos, gerados na interação entre os estudantes, os professores e as demais vozes com as quais estes interagem. Matencio (2002); Kleiman (2001); Grossmann; Boch (2002); Motta-Roth (2007); Pollet (2001); Silva; Mata (2002); Dabène; Reuter (1998). 793