Congresos y Jornadas Didáctica de las lenguas y las literaturas. | Page 245
(1999). Para esses autores, o objetivo do ensino de gêneros textuais não deve ser
limitado à aprendizagem do gênero em si: ao contrário, ele deve centrar-se, sobretudo,
no desenvolvimento das capacidades de linguagem que poderão ser utilizadas na
produção de outros gêneros textuais. Para desenvolver essa ideia, Schneuwly e Dolz
(2004) apoiam-se na noção de instrumento, desenvolvida por Vigotski (1997) e, em
primeira instância, marxista, segundo a qual, no trabalho, o homem opera uma
modificação desejada no objeto, com o uso de ferramentas, consideradas meios de
trabalho. Essas ferramentas estariam entre o homem e a situação na qual ele age,
guiando seu comportamento nessa situação, mediando a relação entre o homem e o
objeto, mas também entre o homem e os outros. Porém, Vigotski (1997) dá destaque
especial ao papel dos instrumentos que ele chama de psicológicos, de natureza
primeiramente social, mas que foram apropriados ao longo da ontogênese, passando de
interpessoais a intrapessoais. Os instrumentos psicológicos, diferentemente das
ferramentas, visam à transformação do próprio comportamento do indivíduo. Segundo
Schneuwly e Dolz (2004), nesse processo, não apenas a natureza é transformada, mas
também o próprio instrumento e, em última instância, o próprio comportamento
humano. Friedrich (2012) explicita a diferença apresentada por Vigotski (1997) entre a
ferramenta de trabalho e o instrumento, explicando que ambos são elementos
intermediários, intercalados entre a atividade do homem e seu objeto. Porém, a
ferramenta de trabalho serve para operar mudanças no mundo dos objetos, como, por
exemplo, uma pá que serve para tirar a terra de algum lugar. Por outro lado, os
instrumentos psicológicos não visam a fazer mudanças no mundo exterior, mas na
atividade psíquica do sujeito, sendo, portanto, um modo de influência do sujeito sobre si
mesmo, um meio de autorregulação e de autocontrole, ou sobre outras pessoas. Dessa
forma, o instrumento psicológico mediatizaria e materializaria a atividade, podendo ser
considerado como um local privilegiado da transformação de comportamentos. Sendo
assim, para Schneuwly e Dolz (2004), os gêneros poderiam também servir de
instrumentos psicológicos (ou “mega-ferramentas”, como dizem os autores), no sentido
de que contribuiriam para o desenvolvimento das capacidades linguageiras. Aí reside
uma das grandes motivações para o ensino dos gêneros textuais, que ultrapassa o
ensino-aprendizagem de um gênero em específico.
Portanto, ao considerar que os gêneros são um instrumento psicológico para o
desenvolvimento das capacidades de linguagem (Schneuwly; Dolz, 2004), assumimos
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