Congresos y Jornadas Didáctica de las lenguas y las literaturas. | Page 234

descrever as crianças: um, príncipe, o outro, o escravozinho; elas têm os destinos cruzados desde o nascimento. Apesar de ter papéis sociais distintos e apostos, são amamentados pelo mesmo seio servil. O paradoxo se manifesta no fato de pesar sobre o príncipe um fatal destino, enquanto o escravo é livre em sua humildade. O paradoxo é também um artifício verbal que serve para acentuar a ironia. 3.2 Possibilidades para trabalhar o léxico do conto “A Aia”, de Eça de Queirós O professor de Português L2, com vista à promoção da proficiência lexical dos aprendentes, deve iniciar a análise do conto a partir do item lexical aia (que é também o título). Sua iconicidade já nos remete para esse destino cruzado, uma vez que essa palavra pode ser lida da esquerda para direita, ou vice-versa, sem alteração de significado, constituindo, assim, como um palíndromo. Portanto, Aia remete a um tipo social portador de uma fatalidade ligada à própria submissão e ao servilismo que, no conto em foco, são representadas pelo sacrifício do filho. Em seguida, devem-se explorar as marcas icônicas presentes na trilha léxica relativa ao sacrifício do filho. Esta trilha dialoga com a Bíblia, por intermédio de Abraão, e com a Mitologia Grega, por meio de Ifigênia, personagem de a Ilíada. A fidelidade a um senhor e o amor ao filho são os traços que permitem a analogia entre a Aia e o patriarca bíblico, mas a lealdade conduz a Aia ao extremo. Diferentemente da narrativa bíblica, seu filho se torna cordeiro e é sacrificado para salvar o príncipe. Enquanto na narrativa grega a deusa Ártemis se apieda e resolve sacrificar uma corsa no lugar de Ifigênia, no conto eciano, nem o Deus hebreu de Abraão nem os deuses de Homero impediram as forças exteriores de estrangular o filho da Aia. Assim como na mitologia, o sacrifício no conto eciano garante a unidade política e a manutenção do reino. A ironia praticada em “A Aia” atinge uma moral que preconiza submissão e subserviência. Como as marcas irônicas não se apresentam de forma explícita, o leitor necessita atentar às artimanhas expressivas que, sutilmente, criticam a servidão absoluta e denunciam os desequilíbrios sociais. Depois, o docente com a ajuda do programa digital WordSmith Tools, pode levantar a trilha léxica do texto-córpus, com o objetivo de promover o enriquecimento do domínio lexical do aprendente (em especial o estrangeiro). Isso possibilita não só a aquisição do sistema linguístico, mas também a assimilação do sistema cultural que subjaz à língua-objeto. Amparados pelos apontamentos de Simões (2009) no percurso da iconicidade do 999