Congresos y Jornadas Didáctica de las lenguas y las literaturas. | Page 182
“[...]Você errou. Não dominou a língua. É complicado pra um aluno ouvir que não consegue
dominar a própria língua, ou que tudo que ele sabe está errado [...]”.
A autora conclui seu diário dizendo como foi o processo de leitura:
“A leitura desse texto me abriu a mente de uma forma que eu não esperava. A leitura em
todo o momento foi fácil e muito divertida, promovendo uma espécie de interação, uma vez que o
autor aprece pegar na nossa mão e nos levar para uma viagem ao ensino e à nossa língua”.
Se a autora conclui que a leitura do texto lhe proporcionou uma interação com o
autor do texto, de nossa perspectiva, a análise do diário evidenciou que esse instrumento
proporcionou a reconstrução de operações externas (na voz do outro) em um nível interno,
num constante processo dialógico com o texto lido, processo que acreditamos ter sido
propiciado pela mediação da escrita do diário. Como propõe Fernyhough, a internalização
das trocas dialógicas não possibilita apenas a apropriação da fala do outro, mas a adoção
da perspectiva do out ro, num processo de reconstrução constante de perspectivas, no caso
analisado, na concepção de gramática e seu ensino, como pôde ser visto pela análise
realizada na perspectiva enunciativa. Esse processo pode ser um verdadeiro dispositivo
didático para o professor em formação inicial (des)construir conceitos, refletir sobre o
saber-fazer da profissão mesmo em disciplinas de base teórica (como é o caso da
disciplina em que o diário de leitura foi trabalhado).
Considerações finais
As análises dos diários de leitura com professores em formação inicial foram
realizadas com base em alguns elementos do quadro de análise de Bronckart (1999),
Bronckart e Machado (2009) e Ducrot (1987) que possibilitaram a confirmação de nossa
hipótese de que o diário de leitura pode ser um instrumento que permita ao aluno desviar
seu olhar do produto final da leitura como um fim em si mesmo, para se observar
enquanto (futuro) professor que se encontra em um processo de desenvolvimento
profissional.
A análise mostrou o movimento dialógico da voz do autor do texto lido que passa a
ser internalizada pela voz do autor empírico do diário, evidenciando, ao longo do processo
da escrita, um conjunto de dilemas, representações e ações. Sob essa perspectiva,
defendemos que o diário de leitura pode tornar-se não só um dispositivo didático para o
desenvolvimento do próprio processo de leitura sobre os conceitos apresentados nos textos
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