Congresos y Jornadas Didáctica de las lenguas y las literaturas. | Page 180
assumir um ponto de vista, ora outro. Essa natureza dialógica da linguagem, vislumbrada
na escrita no diário, possibilita o surgimento de novos conhecimentos que possibilitarão
outras ações como futura professora (diferentes das que teve como aluna). O diário
(marcado textualmente como seu interlocutor no texto), é o instrumento que medeia a
interação entre o par mais desenvolvido na zona de desenvolvimento proximal (o autor do
texto lido) e a autora do diário, como podemos observar:
Dia 1
[...] Acho que passei o dia inteiro pensando no título (“Mas o que é mesmo Gramática?”) e
sinceramente não cheguei a uma conclusão. [...]
Neste trecho de discurso interativo, a voz do teórico é trazida entre aspas, referindo-
se ao título do livro lido e a resposta da autora é não ter chegado a nenhuma conclusão. A
modalização apreciativa (sinceramente) evidencia uma “confissão” da autora que responde
a um enunciador (evidenciado pela negação) que esperava alguma conclusão.
Ao longo dos demais trechos, a autora do diário marca a voz de seu interlocutor
usando os referentes: texto, leitura e leitura desse texto. No “segundo dia”, o diálogo ainda
se dá em um nível externo:
“[...] o texto propõe em todo momento uma reflexão, uma quebra de preconceitos linguísticos,
tudo isso abordando a gramática de uma forma diferente da que estou habituada”.
Nesse excerto, a autora refere-se ao conceito de gramática apresentado no texto,
dando voz ao próprio texto, e não incorpora como sendo seu o conceito apresentado, pelo
contrário, evidencia um dilema entre o que está lendo (ao dialogar com o texto), e o que
está habituada.
No “terceiro dia”, a autora diarista traz também em um excerto de discurso
interativo a “voz da tradição escolar” (precisamos sim aprender e ensinar gramática
normativa) sendo validada por sua leitura. Nesse trecho, a voz do teórico é aparentemente
incorporada pela autora, mas fica marcada pela afirmação “precisamos sim”, evidenciando
um enunciador que “diz que não precisa” e que era a interpretação que a autora estava
tendo da leitura do texto. O alívio da autora em ter finalmente entendido que a proposta
não é a negação da gramática normativa é evidenciado no emprego da modalização
apreciativa e da modalização pragmática expressando um julgamento relacionando ao
poder-fazer e o dever-fazer (Pérez, 2009). Se no uso da modalização pragmática, há uma
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