Notamos a presença de um interlocutor em todos os diários, indefinido, muitas vezes conforme Machado( 1998). Machado em relação ao papel desse interlocutor, evidencia, em suas análises, que a própria escrita diarista implica em um conflito para o aluno que não está acostumado no contexto acadêmico a se ver em uma posição incompatível com o que ele está habitualmente acostumado, pois as respostas para suas perguntas devem ser construídas por ele mesmo. Kostulski( 2012), ao discutir a diversidade funcional da linguagem para Vigotski, afirma que a escrita pode ser utilizada para dirigir-se a um outro ou ao próprio autor como um meio de elaboração do pensamento 45. Nesse sentido, o estranhamento em relação ao gênero nunca antes escrito é um fator positivo para o autor do diário que, ao ler sobre um tema que lhe causa estranhamento, pode se confrontar consigo mesmo( tendo o diário como instrumento de mediação com o par com quem dialoga) ao se vislumbrar em uma( possível) situação futura de trabalho na qual se depara com o dilema de seus antigos conceitos e as novas significações apreendidas com a leitura do texto. Em relação ao plano global os temas mais recorrentes dos diários foram:( i) reflexões sobre o ato de leitura( ii) inter-relação entre o tema lido e disciplinas cursadas( iii) papel do diário na mudança de leitura feita sobre o texto( iv) conceitos de gramática( v) ensino de gramática( papel de aluno ou de futuro docente; um caso enquanto docente atual)( vi) menção explícita ou implícita do diário como instrumento eficaz no processo de leitura do texto.
Os excertos de temas relacionados ao trabalho como futuro professores se constroem no eixo do discurso interativo, com implicação do autor em relação ao ato de produção e sem referência explícita ao destinatário( às vezes, essa referência é o próprio“ diário”).
A presença deste tipo de discurso confirma nossa hipótese de que o diário de leitura poderia ser um verdadeiro instrumento de reflexão sobre o conteúdo ensinado na grade de licenciatura e sobre o conteúdo em relação à futura profissão que foi tema presente em 19
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Katia Kostulski( 2012), psicóloga da Clínica da Atividade, explica que a instrução ao sósia é um método em que o sujeito, que analisa sua atividade de trabalho, deve escolher uma situação de trabalho real com a qual ele deverá se confrontar em um futuro próximo para poder ser interrogado sobre essa situação por seu“ sósia” que irá“ substitui-lo”. O método é um dos usados pela Clínica da Atividade para favorecer o desenvolvimento do pensamento sobre a atividade de trabalho.
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