Congresos y Jornadas Didáctica de las lenguas y las literaturas. | Page 172
nossas próprias palavras” (Machado, 2009, p. 34) e “quanto mais numerosas e substanciais
forem essas palavras, mais profunda e real será a compreensão” (Bakhtin/Volohínov,
1929/1981, p. 131-132, apud Machado, 2009, p. 84).
Vale lembrar que diversos trabalhos com diários e diários de leitura especificamente
já foram realizados no Brasil. A primeira pesquisa sobre diário de leitura enquanto gênero
para o desenvolvimento da leitura no Brasil foi a de Machado (1998; 2009). Segundo a
autora (1998, p. 29), foi depois da década de 80 que as publicações sobre o gênero
“diário” para fins didáticos e de pesquisa começou a ganhar corpo, sendo pesquisado por
diferentes autores com finalidades distintas. Cito aqui alguns pesquisadores que deram
continuidade às reflexões propiciadas por Machado, tais como Buzzo (2003), Mazzillo
(2006), Machado, Lousada, Abreu-Tardelli (2007), Stutz (2011), Queroz, Stutz (2016),
dentre muitos outros. Essas pesquisas se pautam ou na utilização do diário de leitura como
instrumento para o desenvolvimento da leitura ou na utilização da escrita diarista (diário
de pesquisa, diário de aula, diário de aprendizagem) para a formação do professor e do
pesquisador.
Dos trabalhos sobre diários de leitura especificamente, dando ênfase à importância
do gênero para o desenvolvimento do próprio professor em formação, nosso foco neste
artigo, destaco dois. O primeiro, de Ramos (2015), que mostra como o diário de leitura
pode ser um gênero para a construção da identidade profissional de estudantes de
Pedagogia em formação inicial, aportando-se no conceito de identidade discutido por
diferentes autores e mostrando como o diário de leitura, inserido em eventos de letramento
pode levar a um processo de formação indenitária do futuro professor, como formadora de
leitores. O segundo, nossa experiência e análise da escrita de diários de leitura (Abreu-
Tardelli, 2015) em curso de formação continuada de professores evidenciando que o diário
de leitura mostrou ser um instrumento (no sentido vigotskiano do temo) de
desenvolvimento desse professor que traz, nos diários, reflexões e questionamentos
relacionando o conteúdo da leitura realizada com sua prática em sala de aula e apontando
os conflitos causados por esse embate.
A possibilidade de uso da escrita do diário de leitura como um duplo instrumento, ou
seja, voltando-se para o próprio processo de leitura, possibilitando uma leitura
efetivamente crítica sobre o texto, em que o leitor posiciona-se em diálogo constante com
o autor do texto, como nos mostra Machado (1998, 2009) e também como um instrumento
voltado para seu próprio desenvolvimento enquanto profissional, como constatamos em
pesquisa realizada com professores já em atuação (Abreu-Tardelli, 2015), motivou o
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