p. 320),“ as representações do autor estão em caráter de interação com outras instâncias, que constituem outras vozes dentro do próprio discurso.” O autor não aprofunda a questão da polifonia, abrindo a possibilidade de dialogarmos com outros autores, dentre eles, Ducrot( 1987). Ducrot, ao contrário de Bronckart, não reconhece um autor empírico e imputa a responsabilidade do enunciado ao locutor. Além do locutor, há a presença do enunciador, entidade discursiva que expressam pontos de vista ao enunciado. Autor distingue, assim, dois tipos de polifonia: as expressas explicitamente no texto e a que permite notar a existência no enunciado de mais de um enunciador, mais de um ponto de vista sobre o tem, que podem ou não serem aderidos pelo locutor.
Tão importante quanto as vozes, as modalizações são formas de posicionamento enunciativo por meio do qual se expressam avaliações, opiniões, julgamentos proferidos pelas vozes em relação ao conteúdo temático. Bronckart divide-as em quatro, relacionando-as à noção de mundos representados de Habermas: as lógicas( relacionam-se aos critérios do mundo objetivo), as deônticas( relacionam-se aos critérios do mundo social), as apreciativas( relacionam-se aos critérios do mundo subjetivo) e as pragmáticas( relacionam-se aos critérios do mundo subjetivo e social, expressando julgamentos relacionados à ação, intenção, razão atribuídas a um agente) 41.
Sob essa perspectiva teórico-metodológica, iremos mostrar como o diário de leitura pode tornar-se não só um dispositivo didático para o desenvolvimento do próprio processo de leitura sobre os conceitos apresentados nos textos lidos nas diversas disciplinas( Machado, 1998), mas também ser um instrumento de desenvolvimento para o processo de“ tornar-se professor” nos cursos de licenciatura.
Pesquisas sobre a escrita diarista e diários de leitura
Antes de apresentarmos as pesquisas realizadas sobre a escrita diarista, retomamos o conceito de diário de leitura apresentado por Machado( 2009). O diário de leitura é um texto que vai sendo produzido por um leitor, normalmente em primeira pessoa, durante a leitura de um( outro) texto. Ele tem como objetivo maior o estabelecimento de um diálogo, de uma“ conversa” com o autor, de forma reflexiva, possibilitando que a leitura não seja feita de forma“ passiva”, mas que haja uma interação entre o leitor e o texto, coconstruindo sentidos nessa interação, criando uma verdadeira forma de diálogo, em que“ a cada palavra que estamos buscando compreender, fazemos corresponder uma série de
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Sobre o modelo completo do folhado proposto por Bronckart, ver: Bronckart( 1999); Machado, Bronckart( 2009).
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