Congresos y Jornadas Didáctica de las lenguas y las literaturas. | Page 168
Palavras-chave: diário de leitura; gênero textual/discursivo; formação inicial de
professores; instrumento psicológico.
Introdução
O trabalho desenvolvido com estudantes de 1º ano de Letras com a escrita de diários
de leitura de um texto sobre gramática e ensino partiu de dois pressupostos teóricos e de
uma hipótese. O primeiro pressuposto, o de gênero textual como um mega-instrumento de
desenvolvimento de capacidades linguageiras (Schneuwly, 2004), no caso, as capacidades
leitoras; o segundo, e o que mais me interessava no caso, o do gênero como um
instrumento de desenvolvimento profissional do professor (Machado, 2010; Machado;
Lousada, 2010). Na pesquisa aqui realizada, que se difere do apresentado por Machado
(2010) e Machado e Lousada (2010), nossa hipótese era de que o diário de leitura seria o
gênero que poderia possibilitar a inserção do aluno no processo de “pensar-se como
professor em formação” (e não apenas como estudante de Letras) e consequentemente em
possíveis dilemas que todo trabalhador vive em situação de trabalho, como nos apontam
os estudiosos da Clínica da Atividade (Clot, 2010; 1999; Kostulski, 2012). Assim, a
hipótese seria a de que esses dilemas já poderiam ser provocados pela leitura do texto e
pela escrita diarista. Tal hipótese foi projetada a partir de resultado de trabalho
desenvolvido anteriormente (Abreu-Tardelli, 2015) com alunos de pós-graduação lato
sensu e, portanto, professores já em sala de aula. Nesse estudo, os diários de leitura
revelaram ser um instrumento importante para que os dilemas profissionais viessem à tona
e pudessem ser discutidos em sala, no momento de compartilhar as reflexões de cada
estudante ao longo da escrita do diário de leitura.
Tendo em vista o interesse em inserir os estudantes de graduação no universo da sala
de aula desde o início de sua formação, interesse que vai ao encontro de algumas políticas
públicas em âmbito nacional 40 , a fim de promover dispositivos didáticos que auxiliem na
formação conceitual e prática de um futuro professor, foi que essa pesquisa tomou corpo.
Vale destacar que, no momento da escrita deste texto, pós-golpe civil para a instauração do
governo Michel Temer, as políticas públicas estão tomando um caminho oposto ao que será aqui
apresentado, tais como a PEC 241 (Proposta de Emenda Constitucional) que prevê o congelamento
dos investimentos públicos pelos próximos 20 anos, sendo amplamente divulgada pela mídia e por
jornalistas que ocupam grande espaço midiático na TV brasileira como medida “necessária” para
se conter a dívida pública. A esse respeito, ver artigos de Boulos (13/10/2016) e de Carvalho
(13/10/2016), professora do Departamento de Economia da FEA-USP, que desconstroem tais argu-
mentos.
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