(COM)POSSIBILIDADES:OS 50 ANOS DO MAIO DE 68 com-possibilidades_os_50_anos_do_maio_de_68 | Page 99
Pedro Antônio Gregorio de Araujo
ex nihilo, ele é “o capital em tal grau de acumulação que se torna
imagem.” 17 – o espetáculo surge da infraestrutura econômica;
lembremos que o termo “capital” não significa meramente o
dinheiro em si, mas tudo aquilo que flui em sua circulação, ou
seja, capital é um processo. “O espetáculo domina os homens
vivos quando a economia já os dominou totalmente. Ele nada
mais é que a economia desenvolvendo-se por si mesma.” 18 O
espetáculo é uma visão de mundo como qualquer outro, porém
ela se objetivou, e, para ele existir, o espetáculo requer a aceita-
ção passiva. 19 – ele requer a contemplação oriunda da reificação.
A origem do espetáculo é a perda da unidade do mundo, e a ex-
pansão gigantesca do espetáculo moderno revela a totalidade dessa
perda: a abstração de todo trabalho particular e a abstração geral
da produção como um todo se traduzem perfeitamente no espetá-
culo, cujo modo de ser concreto é justamente a abstração. 20
O espetáculo é a conclusão lógica do fetichismo da merca-
doria teorizado por Marx, pois o espetáculo troca o mundo real,
sensível, por uma seleção de imagens seletas:
O princípio do fetichismo da mercadoria, a dominação da socie-
dade por ‘coisas suprassensíveis embora sensíveis’, se realiza com-
pletamente no espetáculo, no qual o mundo sensível é substituído
por uma seleção de imagens que existe acima dele, e que ao mesmo
tempo se fez reconhecer como o sensível por excelência. 21
O mundo que o espetáculo mostra, que faz ver, é o mundo da
mercadoria controlando a vida de todos os seres, 22 não há vida
17 Ibid., p. 25, grifos do autor.
18 Ibid., p. 17-18.
19 “A atitude que por princípio ele [o espetáculo] exige é da aceitação passiva que, de fato,
ele já obteve por seu modo de aparecer sem réplica, por seu monopólio da aparência.”
(Ibid., p. 17).
20 Ibid., p. 23.
21 Ibid., p. 28.
22 “O mundo presente e ausente que o espetáculo faz ver é o mundo da mercadoria
dominando tudo o que é vivido.” (Ibid.)
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