(COM)POSSIBILIDADES:OS 50 ANOS DO MAIO DE 68 com-possibilidades_os_50_anos_do_maio_de_68 | Page 100

O conceito de espetáculo e seus fundamentos que se possa dizer autêntica dentro da sociedade espetacular. Há uma falsa escolha entre os espetáculos que serve apenas para mascarar a miséria existente 23 , e Debord identifica que há duas formas do espetáculo que servem para tal fim: o espetáculo concentrado e o difuso. Pode-se dizer que o filósofo associa o espetacular concentrado com países de modernização tardia e de capitalismo burocrático; lugares marcados por um capita- lismo mais retrógrado, mais estatal. 24 Enquanto o espetacular difuso é característico de países de capitalismo mais avançado, países com abundância de mercados, não há burocratas como nos lugares de espetáculo concentrado, há um choque de ideias contraditórias no coliseu do espetáculo, no entanto, tais embates também fazem parte do espetáculo. 25 O espetáculo concentrado é mais abertamente violento do que o difuso, naquele há um culto a personalidade, e isto se encontra ausente neste. No espetáculo, a mercadoria ocupa a totalidade da vida so- cial: só é possível ver a mercadoria e nada mais além dela – ela é uma ditadura de visão de mundo, e tal ditadura aumenta ainda mais com a produção econômica contemporânea, e insere a perpetuidade dessa ditadura num ciclo vicioso: Todo o trabalho vendido de uma sociedade se torna globalmente a mercadoria total, cujo ciclo deve prosseguir. Para conseguir isso, é preciso que essa mercadoria total retorne fragmentadamente ao indivíduo fragmentado, absolutamente separado das forças pro- dutivas que operam como um conjunto. 26 23 “Sob as oposições espetaculares esconde-se a unidade da miséria.” (Ibid., p. 42). 24 “O espetacular concentrado pertence essencialmente ao capitalismo burocrático, embora possa ser importado como técnica de poder estatal em economias mistas mais atrasadas, ou em certos momentos de crise do capitalismo avançado.” (Ibid.) 25 “O espetacular difuso acompanha a abundância de mercadorias, o desenvolvimento não perturbado do capitalismo moderno. No caso, cada mercadoria considerada separadamente é justificada em nome da grandeza da produção da totalidade dos objetos, cujo espetáculo é um catálogo apologético. Afirmações inconciliáveis se chocam no palco do espetáculo unificado da economia abundante.” (Ibid., p. 43). 26 Ibid., p. 31. 99