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O conceito de espetáculo e seus fundamentos
E o ‘virtuose’ especialista, o vendedor de suas faculdades espirituais
objetivadas e coisificadas, não somente se torna um espectador do
devir social [...], mas também assume uma atitude contemplativa
em relação ao funcionamento de suas próprias faculdades objeti-
vadas e coisificadas. 14
Aquele que está reificado é inativo em sua própria vida; não
age, apenas observa, com olhar melancólico, sua própria força
de trabalho sendo removida de si e sujeitando-se a leis sociais
(aparentemente, apenas) eternas que agem a partir de si, e tam-
bém se vê forçado a cumprir suas tarefas de maneira robótica.
A vida encontra-se ausente pois ela se torna inativa. Portanto, a
reificação é algo inerente ao sistema capitalista moderno (deta-
lhe que Lukács acentua várias vezes em seu ensaio), 15 mas o fato
dela ser algo exclusivo ao capitalismo moderno não significa que
a reificação não possa se apresentar de maneiras mais implícitas.
Para podermos ver como tal fenômeno ocorre na sociedade
burguesa contemporânea teremos que entrar nas observações
de Debord acerca do espetáculo.
2.3. Espetáculo
Guy Debord, o teórico mais famoso da Internacional Si-
tuacionista, avança em sua obra mais famosa, A Sociedade do
Espetáculo, o conceito de espetáculo. O que seria isso? Em uma
frase: “O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma re-
lação social entre pessoas, mediada por imagens.” 16 , diz Debord
na quarta tese do livro. – isto nos leva pensar o espetáculo como
a reificação observada por Lukács. No entanto, como surgiu
o fenômeno do espetáculo? Qual a sua gênese? Debord é um
marxista, logo o espetáculo não é um mero idealismo surgido
14 Ibid., p. 222.
15 “Contudo, antes que o problema propriamente dito possa ser examinado, temos de
esclarecer que a questão do fetichismo da mercadoria é específica da nossa época, do
capitalismo moderno.” (Ibid., p. 194, grifos do autor).
16 DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Trad. Estela dos Santos Abreu. 13 reimp.
Rio de Janeiro: Contraponto, 2013. p. 14.
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