(COM)POSSIBILIDADES:OS 50 ANOS DO MAIO DE 68 com-possibilidades_os_50_anos_do_maio_de_68 | Page 98

O conceito de espetáculo e seus fundamentos E o ‘virtuose’ especialista, o vendedor de suas faculdades espirituais objetivadas e coisificadas, não somente se torna um espectador do devir social [...], mas também assume uma atitude contemplativa em relação ao funcionamento de suas próprias faculdades objeti- vadas e coisificadas. 14 Aquele que está reificado é inativo em sua própria vida; não age, apenas observa, com olhar melancólico, sua própria força de trabalho sendo removida de si e sujeitando-se a leis sociais (aparentemente, apenas) eternas que agem a partir de si, e tam- bém se vê forçado a cumprir suas tarefas de maneira robótica. A vida encontra-se ausente pois ela se torna inativa. Portanto, a reificação é algo inerente ao sistema capitalista moderno (deta- lhe que Lukács acentua várias vezes em seu ensaio), 15 mas o fato dela ser algo exclusivo ao capitalismo moderno não significa que a reificação não possa se apresentar de maneiras mais implícitas. Para podermos ver como tal fenômeno ocorre na sociedade burguesa contemporânea teremos que entrar nas observações de Debord acerca do espetáculo. 2.3. Espetáculo Guy Debord, o teórico mais famoso da Internacional Si- tuacionista, avança em sua obra mais famosa, A Sociedade do Espetáculo, o conceito de espetáculo. O que seria isso? Em uma frase: “O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma re- lação social entre pessoas, mediada por imagens.” 16 , diz Debord na quarta tese do livro. – isto nos leva pensar o espetáculo como a reificação observada por Lukács. No entanto, como surgiu o fenômeno do espetáculo? Qual a sua gênese? Debord é um marxista, logo o espetáculo não é um mero idealismo surgido 14 Ibid., p. 222. 15 “Contudo, antes que o problema propriamente dito possa ser examinado, temos de esclarecer que a questão do fetichismo da mercadoria é específica da nossa época, do capitalismo moderno.” (Ibid., p. 194, grifos do autor). 16 DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Trad. Estela dos Santos Abreu. 13 reimp. Rio de Janeiro: Contraponto, 2013. p. 14. 97