(COM)POSSIBILIDADES:OS 50 ANOS DO MAIO DE 68 com-possibilidades_os_50_anos_do_maio_de_68 | Page 97

Pedro Antônio Gregorio de Araujo as leis capitalistas, assim como as leis feudais e como qualquer outro tipo de lei social, não são naturais: elas são construídas e são contingentes; são obras das mãos humanas em última ins- tância. 11 Enquanto, subjetivamente, o trabalho se objetiva em relação ao homem, o trabalho torna-se mais uma mercadoria como qualquer outra, para ser usada como valor de troca. 12 Ademais, o filósofo húngaro observa que o capitalismo re- move cada vez mais as idiossincrasias de cada trabalhador por meio da racionalização, do cálculo racional da economia, o ca- pitalismo atomiza e fragmenta os mais diversos objetos, como os saberes, os produtos e até mesmo as pessoas: […] essa fragmentação do objeto da produção implica necessa- riamente a fragmentação do seu sujeito. Como consequência do processo de racionalização do trabalho, as propriedades e particu- laridades humanas do trabalhador aparecem cada vez mais como simples fontes do erro quando comparadas com o funcionamento dessas leis parciais abstratas, calculado previamente. 13 Ou seja, dentro da lógica capitalista de produção não há espaço para a humanidade do homem: suas características se- riam a fonte do erro: o homem se torna contemplativo, esta é a essência do trabalhador reificado: ele é apenas um objeto, enquanto a mercadoria emana sua propriedade mística que faz ela parecer mais sujeito do que o produtor dela. se tornem gradualmente conhecidas pelos homens, mesmo nesse caso se lhes opõem como poderes intransponíveis, que se exercem a partir de si mesmos.” (Ibid.). 11 “Do mesmo modo, a ilusão segundo a qual toda vida social estaria submetida a leis ‘eternas e inflexíveis’, que certamente se diferenciam em diversas leis especiais nos domínios particulares, deve necessariamente revelar-se como o que é, ou seja, contingentes.” (Ibid., p. 224). 12 “Subjetivamente, numa economia mercantil desenvolvida, quando a atividade do homem se objetiva em relação a ele, torna-se uma mercadoria que é submetida à objetividade estranha aos homens, de leis sociais naturais, e deve executar seus mo- vimentos de maneira tão independente dos homens como qualquer bem destinado à satisfação de necessidades que se tornou artigo de consumo.” (Ibid., p. 199-200). 13 Ibid., p. 203, grifos do autor. 96