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Pedro Antônio Gregorio de Araujo
entanto, ao ser finalizada, a mercadoria afasta seus produtores:
ela se apresenta como algo completamente independente de seus
produtores, é algo exterior a eles, um outro absoluto:
O caráter misterioso da forma-mercadoria consiste, portanto, sim-
plesmente no fato de que ela reflete aos homens os caracteres sociais
de seu próprio trabalho como caracteres objetivos dos produtos do
trabalho eles mesmos, como propriedades sociais que integram a
natureza dessas coisas, com o que ela reflete também a relação so-
cial dos produtores com o trabalho total como uma relação social
entre objetos dotada de existência própria, externa aos produtores.
É através desse quiproquó que os produtos do trabalho se tornam
mercadorias, coisas sensíveis-suprassensíveis ou sociais. 4
Em suma: as características sociais que durante a produção
do produto estavam presentes no trabalho e no suor do produ-
tor, agora, com a finalização da mercadoria e de sua transforma-
ção em mercadoria propriamente dita, estão na mercadoria em
si, e de forma objetiva: ela se mostra como algo absolutamente
independente dos homens, sendo que na realidade sabemos
que é o oposto o verdadeiro: a mercadoria não possui valor
intrínseco, toda valor dela surge a partir do trabalho humano.
“A isso eu chamo de fetichismo, que se cola aos produtos do
trabalho tão logo eles são produzidos como mercadorias e que,
por isso, é inseparável da produção de mercadorias.” 5 – o fetiche
da mercadoria é algo inerente à mercadoria, pois ele é aquilo que
emana de maneira misteriosa dela. A mercadoria e seu fetiche
mascaram o fato de que quem movimenta realmente a economia
capitalista é o trabalho humano; e isto é acentuado ainda mais
pela forma-dinheiro. 6 A forma-mercadoria objetifica tudo ao
seu redor, inclusive as relações humanas, e este foi o assunto
desenvolvido pelo húngaro Georg Lukács em sua análise acerca
do fenômeno da reificação.
4 Ibid.
5 Ibid.
6 “Porém, é justamente essa forma pronta – a forma-dinheiro – do mundo das merca-
dorias que oculta realmente, em vez de revelar, o caráter social dos trabalhos privados
e, com isso, as relações sociais entre os trabalhadores privados.” (Ibid., p. 114).
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