(COM)POSSIBILIDADES:OS 50 ANOS DO MAIO DE 68 com-possibilidades_os_50_anos_do_maio_de_68 | Page 75

Norman Roland Madarasz A maneira em que trabalhar teoricamente os cinquenta anos do ano 1968 impõe exigências formais. Se é valido sustentar que a diversificação da sociedade de consumo é o legado ver- dadeiro de 68, o diagnóstico de uma continuidade entre nossa época e a de 68 deve ser restringido às democracias liberais. Porém, como bem o mostram Ian Angus e o documentarista inglês Adam Curtis (1992, 2016), os anos 1960 já eram a década do consumo antes 1968. Badiou também evoca como apenas meses antes de maio, as imagens da França expressavam a doce far-niente da utopia consumista, utopia, é importante o salientar, que também se estendia aos países comunistas do Leste Euro- pa. (BADIOU, 2015) Em 1973, por conta da crise do petróleo, os Estados Unidos serão mergulhados em uma das maiores e mais duradouras recessões da sua história. A cidade de Nova York decretou falência em 1975, o que mergulhara a cidade em pobreza, insegurança e violência. Por sua parte, a economia soviética também entrou em declino. Após a destruição come- tida a suas cidades pela Wehrmacht de Hitler, a União Soviética se tornou em vinte anos a segunda potência militar mundial. Passando pela abertura kruscheviana do final dos anos 1950 e 1960, é importante salientar que quem se estruturava conforme o terror staliniano era o PCF, mais ainda que o Partido soviético. No plano doméstico, a administração dos Estados-Unidos não temia tanto a restrição totalitária sobre as liberdades da década de 1970 quanto o sucesso do socialismo real dos anos 1960. Portanto, maio de 68 representava-se sob forma de uma re- volução, mas se realizou em uma festa política. Porventura não era é um Carnaval, pois, os acontecimentos representam, até agora, a último grito de raiva do homem branco heteronor- mativo de esquerda – os da direita teriam que aguardar mais cinquenta anos. O grito se tornou mais suave, no entanto, até se apropriar novamente da sociedade patriarcal. Por isso, não parece adequado o ver como inaugurando os movimentos que só se consolidarão a partir do movimento punk. O punk, como o feminismo e a libertação gay se construíram contra o conteú- 74