(COM)POSSIBILIDADES:OS 50 ANOS DO MAIO DE 68 com-possibilidades_os_50_anos_do_maio_de_68 | Page 76
A dupla ruptura afetiva com o memorial de 1968...
do de 68 e da estruturação interna do movimento, dominado
violentamente por homens brancos heterossexuais. Ao usar o
instrumento teórico da análise estrutural, é possível ver atuando
não apenas um só corte descontinuísta na história, mas uma
síncope entre os acontecimentos e as criações sociais, período
que desaguou na curiosa década de 1990, possivelmente a mais
livre que as democracias tenham vivido na história.
Se maio de 68 era uma singularidade no plano da política,
ela não pode facilmente ser pensado como causa do futuro,
nem proporcionando positivamente o que lhe seguiu no plano
das revoluções econômicas e sociais. Estas ainda lutam para
manter o pouco conquistado em revoluções diversas depois, a
maioria brutalmente reprimidas em sangue, tortura e pobreza.
Daniel Cohn-Bendit tem razão: o acontecimento 1968 terminou
a ideia de revolução. Acrescentaremos: para os homens brancos.
Contudo, para assegurar que a prosperidade for distribuída em
todos os estratos da sociedade, há necessidade de contracultu-
ras revoltadas. Sem revolta, não há avanço social. Não houve
na França, no Canadá, na Alemanha, e nem haverá por algum
tempo no Brasil.
Termino com alguns slogans escritos nas paredes de Paris
naquele “joli mois de mai”:
Il est interdit d’interdire ! (É proibido proibir.)
Mangez vos professeurs! (Comam seus professores.)
L’imagination au pouvoir! (A imaginação ao poder.)
E o que deve ser óbvio para o Brasil de hoje:
On a raison de se révolter !
Tem razão quem se revolta!
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