(COM)POSSIBILIDADES:OS 50 ANOS DO MAIO DE 68 com-possibilidades_os_50_anos_do_maio_de_68 | Page 68
A dupla ruptura afetiva com o memorial de 1968...
tação das expressões partidárias de esquerda entre trotskistas,
chineses (que depois de maio se tornarão maoístas), italianos, os
movimentos da juventude comunista e expressões libertarianas
antiliberais. Pela perspectiva do poder soberano, maio é uma
revolta de esquerda. Na perspectiva do PCF, tratava-se de uma
revolta da pequena burguesia.
Por conta desta contradição entre perspectivas, o profícuo
momento cultural do final dos anos sessenta continua propor-
cionando dúvidas. Após cinco décadas, pergunta-se como ligar
as impressões factuais das rupturas ocorridas ao decorrer da
próxima década que se fez em nome dos acontecimentos. É ine-
gável que sua verdadeira vítima era uma força política organiza-
cional, a única esperança para derrubar o neoliberalismo, pelo
qual, sob pretexto de desregular os mercados comerciais e dos
capitais, tira os últimos da tributação e desvia o poder de Estado
do modo democrático de governar a sociedade. O comunismo
francês que desarticulava o poder centralizado num partido
só nomeava pelo menos o sacrifício do espírito estratégico de
oposição eticamente radical. Faz-se relevante, então, reavaliar o
memorial-68 em cujas filigranas se perceba a comemoração da
destruição da ideia comunista. O PCF, oriundo dos resistentes
contra o nazismo, se integrou ao processo democrático no pós-
-guerra e ocupara um papel central na cena política francesa. Ao
longo de três décadas que desmancharam a quarta República em
massacres e tortura para preservar as colônias, a complexidade
do momento conduzira o PCF também a perder legitimidade.
As causas da desfiliação gradual perante sua estrutura, na re-
trovisão que apenas a história dos vencidos possa oferecer, não
são tanto o “stalinismo” quanto a estrutura da quinta República,
com a qual o PCF compactuava.
Nos dias 23 e 30 de junho de 1968 ocorriam eleições legis-
lativas. A vitória será dita “decisiva” pelos gaullistas, o que se
confirma pelo número de cadeiras conquistadas. No entanto,
na eleição em que quase oitenta por cento da população votava,
surge um nítido desequilíbrio entre o voto direto e proporcional.
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