(COM)POSSIBILIDADES:OS 50 ANOS DO MAIO DE 68 com-possibilidades_os_50_anos_do_maio_de_68 | Page 69
Norman Roland Madarasz
Os Gaullistas chegaram a ter 49.9 por cento da vota popular,
mas os comunistas ainda conseguiram 42.4. Transformada em
cadeiras, a votação fornecia 363 deputados à formação conser-
vadora, mas apenas 91 à Esquerda! Nas eleições presidenciais
de 1969, o PCF terminará em terceiro lugar, mas com 21 por
cento no primeiro turno, ou seja, apenas 2 por cento atrás da
formação centrista. Força é de constatar que o tão conclamado
fim do comunismo em 1968 fora o resultado de uma aliança
entre os Gaullistas e os principais canais de televisão, o que
excluiu das considerações a ainda forte representatividade do
PCF com a população francesa – apesar do movimento dos
gauchistes. Muito já foi pontificado sobre o “stalinismo” da li-
derança partidária. Um dia seria necessário voltar e entender
que o stalinismo como opção de governo na União Soviética foi
superado nos anos de 1960. Nunca o comunismo soviético seria
tão parecido com a sociedade de consumo capitalista do que na
década de 60 (ANGUS, 2018). Uma coisa é certa: os estudan-
tes formarão novos partidos comunistas, mas nunca voltarão à
forma hierarquizada do PCF (BADIOU, 2012).
Portanto, existe uma dispersão de correntes e de causas que
pressiona qualquer modelo explicativo sobre as consequências
da revolta. A explicação do historiador contemporâneo, Philippe
Artières, é aquela que mais chama atenção. No catálogo da ex-
posição Contre-cultures 1969-1989: L’Esprit français, apresentada
na Maison Rouge de Paris em 2017, ele evoca mais claramente o
nexo daquele acontecimento: “Os anos 1968 são, lembramo-lo,
os de um questionamento profundo da autoridade que o [Pre-
sidente da França] General de Gaulle encarnava em primeiro
lugar, mas que se declinou por meio do diretor de empresa, do
professor, do policial e bem entendido do pai.” 6 E foram milhares
os filhos e as filhas da revolução que apanharam dos cassetetes
da polícia de choque, o CRS. Godard os honrou ao forçar o
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ARTIERES, Philippe. « Les Révolutionnaires seront des enfants ou ne seront pas » : Élé-
ments pour une histoire politique de la sexualité des mineurs dans l’après-68 français,
Contre-cultures 1969-1989 : L’Esprit français. Sous la direction de Guillaume Désanges
et François Piron. Paris : Éditions La Maison Rouge/La Découverte, 2017. p. 93.