(COM)POSSIBILIDADES:OS 50 ANOS DO MAIO DE 68 com-possibilidades_os_50_anos_do_maio_de_68 | Page 66
A dupla ruptura afetiva com o memorial de 1968...
Eis o ponto: Godard entendeu que o programa de educação
revolucionária, maoísta, implicava uma reeducação. Os filmes
que ele iniciou, com hesitação e até ambivalência, por La Chi-
noise, adquiriam clareza na época de Grupo Dziga Vertov após
maio-junho, antecipando desta forma a questão crucial para
os movimentos revolucionários se espalhando pelo planeta: o
que fazer com a classe liberal? A única solução ética passava
pela reeducação.
3. Segundos acontecimentos: Guy
Hocquenghem, Marguerite Duras
Talvez no futuro, fará novamente sentido politicamente rei-
vindicar o direito para que estudantes-homens pudessem fre-
quentar os dormitórios das moças pela madrugada, ou para que
professores aplicassem métodos mais dinâmicos para ensinar,
ou para que universidades oferecessem uma seleção maior de
cursos para se atualizarem sobre os tempos modernos e para
que abrissem as portas pelo menos aos homens da classe média
baixa, medida que, para não provocar tédio nos homens, até jus-
tificava a ingressão de outras mulheres! Talvez no futuro todas
estas reivindicações, agora bem banais e até ofensivas, voltarão.
Curiosamente eram exatamente as que despertaram a revolta
de maio 68 em Paris.
De tais banalidades, é difícil imaginar a guerra urbana que
explodiu nas duas noites ditas das barricadas, quando o Rive
Gauche pegou fogo e uma greve geral que reuniu operários
em uma massa movente que rejeitaram a direção do Partido
Comunista Francês e seus sindicatos para desovar um caminho
junto com os filhos da burguesia. Em 10 de maio houvera a pri-
meira noite das barricadas. Às duas horas da madrugada, 6000
policiais receberam a ordem de atacar os estudantes, causando
centenas de feridos, mais de quinhentos detidos, duzentos car-
ros queimados, o pavimento retirado empilhado em dezenas
de barricadas. O Quartier latin estava em ruínas. Em meio da
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