(COM)POSSIBILIDADES:OS 50 ANOS DO MAIO DE 68 com-possibilidades_os_50_anos_do_maio_de_68 | Page 65

Norman Roland Madarasz Além de Godard, o governo de George Pompidou no final dos anos 60 também entendeu a demanda para a reeducação, e a potência revolucionária que isto representava, ao criar duas universidades em resposta às demandas para ampliar o aces- so ao ensino superior. Eram demandas de uma sociedade não tanto em rumo à reforma quanto em crescimento. No Québec, a criação de novas universidades se tornou de prima importân- cia para não deixar o bastião da colonização anglo-canadense, a Universidade McGill, a tal chamada Harvard do norte, ser transformada em universidade francófona, como reivindicava um vasto movimento nacionalista e trabalhista em Montréal e na cidade de Québec em 1969. Tal era o medo nas instâncias do poder franco-canadense que ameaçava impor a lei marcial. Na perspectiva do Estado francês, apenas uma das novas universidades criadas em Paris na esteira de 68 deu certa. De fato, Dauphine se tornou um dos principais centros de formação econômica no país. A outra teria sido catastrófica: Vincennes, onde o espírito de 68 não só se incarnou, mas cresceu e ampliou até despertar os múltiplos ramos do pensamento francês radical que veio empolgar, ele também, o mundo. Pela vista da França conservadora, o Centre universitaire expérimental de Vincennes representa uma vergonha, ainda mais quando adquiriu o título de universidade. Pelo ponto de vista do conservadorismo fran- cês, Vincennes devia ser enterrada. Isto ocorreu efetivamente em 1979 nas mãos do então prefeito de Paris, Jacques Chirac. O capital humano da universidade foi enviado até a periferia norte de Paris, e as instalações no Bosque de Vincennes destruídas sem marca alguma de onde se encontrava o centro de pesquisa mais inovador em ciências humanas e sociais da França nos anos de 1970, embora suas impressões factuais percorrem os continentes. Nem sequer uma placa invisível indica a localização de Vincennes. Coisa incrível por uma universidade cujo corpo docente foi parcialmente constituído por Michel Foucault, e composto por Alain Badiou e a elite normalienne de Paris. 64