(COM)POSSIBILIDADES:OS 50 ANOS DO MAIO DE 68 com-possibilidades_os_50_anos_do_maio_de_68 | Page 59
Norman Roland Madarasz
comemorar revoluções culturais. O poder antigamente investido
nos cursos de filosofia e das ciências humanas fora separado da
sua conexão com os aparelhos do Estado. Nesta desconexão,
cresceram a ciência política, a administração e o direito, ao de-
trimento da filosofia. Para chegar à política de 68, tenho então
que me dissolver em uma serie de tropos: me cortar, dilacerar
para deixar aparecer o avesso da minha função e da realidade
que a acompanha. Hoje, como teria sido ontem, tenho que me
reeducar.
2. Processo de reeducação pelo cinema de
Godard
Primeiro documento: Le Gai Savoir, de Jean-Luc Godard.
É possível que não haja artista ou intelectual perpassado pelos
acontecimentos de 68 como Godard (faço exceção do filósofo
francês também ator em 68, Guy Hocquenghem, a quem eu
volto em seguida). Se a Nouvelle Vague francesa quebrava com
o sistema de filmar em estúdios e com a montagem escondida
entre imagens e sons, em maio de 68 Godard rompe com o filme
narrativo em todas as formas. Rasga com o enredo e a ideia que
o cinema deve divertir, devendo ter um início e um fim. Em
1968, Godard despedaça o autor e ele mesmo, para desenrolar
o pensamento em 24 quadros por segundo.
O filme Le Gai Savoir representa a primeira etapa concreta
deste processo. Filmado logo depois de maio, trata-se de um
processo de reeducação.
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